Fora AZIZ, conheci dois notáveis Nacib. O primeiro foi Armando Bogus, que contracenou com Sonia Braga em Gabriela, Cravo e Canela. O segundo, meu artista favorito, fez no cinema o mesmo papel que Bogus fez na tv. Foi Marcello Mastroianni. Ambos os artistas já deixaram esta vida com uma invejável folha de serviços. O terceiro Nacib faleceu sexta feira passada, e como a academia é costumeira em abreviar nomes, chamava-o simplesmente de AZIZ Ab SABER. Em sua singular humildade, este gigante da ciência partiu para o céu dos passarinhos Tão discretamente como viveu. Meu Nacib. Meu amigo Nacib.
Aziz Nacib Ab Saber viveu 87 anos de vida, a maior parte deles dedicados aos estudos geográficos voltados para o ambientalismo, para a preservação da natureza e seus bichinhos, suas plantas, seus recursos arqueológicos. Este homem fará uma imensa falta para o mundo da ciência, pois seu tirocínio era aguçado. E quando ele chegava em algum ambiente de cientistas, parecia o primo pobre da turma, tão grande era sua humildade e simplicidade no vestir.
Quem quiser saber mais sobre ele, procure no Google. Quero apenas lembrar de um amigo que partiu em um só gemido, teve a “morte dos justos”, diriam uns, mas viveu com uma intensidade e uma humanidade invejáveis.
Do nosso convívio vou contar apenas um fato, daqueles de arrepiar os cabelos.
Em 1977, eu tinha 31 anos e ele 52. Algo em comum nos unia. Questões filosóficas, políticas? Talvez. O fato é que, numa noite tenebrosa fomos, cada um no reduto do seu lar, notificados que o meu orientador de mestrado havia falecido. Meu orientador tinha 57 anos e era um destes gênios intelectuais eruditos raros. Fora amigo pessoal de Hermann Hesse, lecionara no Japão, na Alemanha e outras plagas, e havia definido que, quando a curva de decadência pessoal começasse o seu curso, daria um fim à vida. Pois foi exatamente isso que nosso amigo fez. Ele andara uns tempos antes me assediando para saber se eu conseguiria através de meu marido algum veneno, mas disse a ele que isso estava fora de cogitação. Pois não é que o Pedro Moacyr arrumou cianureto, organizou o palco de seu último espetáculo e se matou? Então, foi assim que Aziz e eu fomos parar no Instituto Médico Legal para descobrir o que o gênio pirado havia feito. E ali ficamos, horas infindas, esperando contar com a leniência de algum funcionário para saber como fora o suicídio. Trocamos figurinhas. Porque estávamos juntos, o terror não foi tão grande.
Anos depois, estivemos juntos muitas vezes por questões ambientais. Mas nunca perdemos a lembrança macabra daquela noite. Agora, quem descansa é AZIZ, o meu Nacib, o meu modelo de intelectual sério e despojado. Saudade!