quinta-feira, 22 de março de 2012

AZIZ NACIB Ab SABER


Fora AZIZ, conheci dois notáveis Nacib. O primeiro foi Armando Bogus, que contracenou com Sonia Braga em Gabriela, Cravo e Canela. O segundo, meu artista favorito, fez no cinema o mesmo papel que Bogus fez na tv. Foi Marcello Mastroianni. Ambos os artistas já deixaram esta vida com uma invejável folha de serviços. O terceiro Nacib faleceu sexta feira passada, e como a academia é costumeira em abreviar nomes, chamava-o simplesmente de AZIZ Ab SABER. Em sua singular humildade, este gigante da ciência partiu para o céu dos passarinhos Tão discretamente como viveu. Meu Nacib. Meu amigo Nacib.
Aziz Nacib Ab Saber viveu 87 anos de vida, a maior parte deles dedicados aos estudos geográficos voltados para o ambientalismo, para a preservação da natureza e seus bichinhos, suas plantas, seus recursos arqueológicos. Este homem fará uma imensa falta para o mundo da ciência, pois seu tirocínio era aguçado. E quando ele chegava em algum ambiente de cientistas, parecia o primo pobre da turma, tão grande era sua humildade e simplicidade no vestir.
Quem quiser saber mais sobre ele, procure no Google. Quero apenas lembrar de um amigo que partiu em um só gemido, teve a “morte dos justos”, diriam uns, mas viveu com uma intensidade e uma humanidade invejáveis.
Do nosso convívio vou contar apenas um fato, daqueles de arrepiar os cabelos.
Em 1977, eu tinha 31 anos e ele 52. Algo em comum nos unia. Questões filosóficas, políticas? Talvez. O fato é que, numa noite tenebrosa fomos, cada um no reduto do seu lar, notificados que o meu orientador de mestrado havia falecido. Meu orientador tinha 57 anos e era um destes gênios intelectuais eruditos raros. Fora amigo pessoal de Hermann Hesse, lecionara no Japão, na Alemanha e outras plagas, e havia definido que, quando a curva de decadência pessoal começasse o seu curso, daria um fim à vida. Pois foi exatamente isso que nosso amigo fez. Ele andara uns tempos antes me assediando para saber se eu conseguiria através de meu marido algum veneno, mas disse a ele que isso estava fora de cogitação. Pois não é que o Pedro Moacyr arrumou cianureto, organizou o palco de seu último espetáculo e se matou? Então, foi assim que Aziz e eu fomos parar no Instituto Médico Legal para descobrir o que o gênio pirado havia feito. E ali ficamos, horas infindas, esperando contar com a leniência de algum funcionário para saber como fora o suicídio. Trocamos figurinhas. Porque estávamos juntos, o terror não foi tão grande.
Anos depois, estivemos juntos muitas vezes por questões ambientais. Mas nunca perdemos a lembrança macabra daquela noite. Agora, quem descansa é AZIZ, o meu Nacib, o meu modelo de intelectual sério e despojado. Saudade!

3 comentários:

Jonatas disse...

Ivone, você não acha que esse tipo de intelectual como o Aziz está escasseando na Universidade? No nosso tempo além de Aziz, havia Pedro Moacyr, Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Júnior, Emilia Viotti, Nícia Villela Luz. E agora? Quem está por lá? Responda cara amiga!

Ivone disse...

Jônatas, infelizmente esse tipo de profissional está raro hoje em dia. Por isso mesmo lembrei tanto do Aziz. Que gentileza, que simplicidade, todas essas qualidades dentro de um enorme intelectual. Como já lhe disse antes, "por vezes sinto saudade de nós" !!!

Humanidade e Pensamento disse...

Pois é, não há como negar a degenerescência das pessoas e da massa crítica do país. Mas tenho vergonha, pois entre tanto lixo existem pérolas de intelectuais que são prejudicados para satisfazer ao grupimo canalha das faculdades atuais.