sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Espelho Partido

Espelho Partido

A primeira metade do século XX deu-nos da Catalunha o genial Picasso, que por razões óbvias, fez sua carreira na França, como outros intelectuaus da sua geração. Nas letras, pouco se fala de uma autora que tem obra densa e instigante. Refiro-me a Mercè Rodoreda(1908-1983) que, no Brasil tem apenas duas obras traduzidas pela editora Planeta.
O Espelho Partido foi escrito entre 1968 e 1974, e refere-se à uma saga familiar que tem por eixo uma belíssima figura feminina que ascendeu socialmente pelo viés do casamento. De peixeira que era, casou-se duas vezes com homens muito ricos e sobreviveu a ambos, não sem deixar um rastro de degeneração pungente para o período em que rola a história: Barcelona em vésperas de revolução popular. Neste caso também, a narrativa é muito percebida através das mulheres que trabalham na mansão de Tereza. Relações adulterinas, mentiras, incesto, fratricídio, voluptuosidade, tudo é percebido pelas lentes mais argutas de quem fazia a comida ou sevia a mesa. Esta leitura constitui um programaço para os apreciadores da boa escrita.

Virginia Woolf

Nada mais curioso do ponto de vista biográfico do que uma análise de personagem a partir da visão das empregadas de sua casa. Pois foi trabalhando em cima de documentos desta natureza que Alicia Giménez Bartlett contou da vida de Virginai Woolf. A partir do diário de uma empregada de nome Nelly Boxall, e sempre comparando com os escritos da própria autora inglesa, ela nos passa um perfil da vida de Virgina e seus relacionamentos com o grupo de Bloomsbury. As relações entre patrões e empregadas eram tensas, a cada dia mais neuróticas, e desse cotejamento de dados, é possível vislumbrar a Inglaterra nas primeiras décadas do século XX. O livro de Alicia Giménez Bartlett chama-se A CASA DE VIRGINIA W. Foi editado pela Ediouro em 2005 e é um prato quente para quem quer se divertir.

Para uma autora angustiada como Virginia Woolf que se suicidou em 1941, parece ironia que tenha escrito uma das pérolas do bom humor inglês. Trata-se de FLUSH, memórias de um cão. Neste livro, virginia se coloca na pele do cocker spaniel Flush, animal de companhia da escritora Elizabeth Barret, moça semi-inválida que fugiu para casar-se com o poeta Robert Browning. O cão acompanha o casal da Inglaterra até a Itália, onde fixam moradia. Virginia Woolf entra no ego do animalzinho para dar alfinetadas na sociedade inglesa do período vitoriano, e o faz com muito êxito, tanto que este livro foi o mais vendido da carreira da escritora. No Brasil, foi editado pela L&PM em 2003. Vale a leitura, paga a diversão.