Não existe campo de trabalho mais circunspecto,
silencioso e solitário do que o do cientista, seja lá qual for sua área de atuação; na área
médica e das biológicas, essas credenciais guardam um significado maior. Assim,
existem milhares de laboratórios no mundo onde se pesquisa longas horas,
experimenta-se mais ainda, para finalmente chegar a um resultado prático que
possa ser de uso das sociedades. Estou me referindo aqui ao lance final de
estudos amplíssimos, que é a picada de uma vacina que tenta limitar o alcance
das doenças infecto contagiosas.
Agora, é tempo de vacinar crianças e idosos
contra a influenza, particularmente contra o subtipo H1N1. Uma picadinha no
braço, talvez uma ligeira reação, e assim se imuniza populações inteiras contra
o risco de uma epidemia incontrolável.
A humanidade já foi de quando em quando
vítima de reduções demográficas graves por conta de males desconhecidos.
Virgílio, em suas Geórgicas, escritas na época do imperador romano Augusto,
fala de uma epizootia que “atacava os animais de criação doméstica e, sendo um
castigo dos deuses, matava todo e qualquer homem que quisesse salvar seu
plantel”. Estudos de diagnóstico retrospectivo chegaram à hipótese de que se
tratava de um surto de carbúnculo hemático, mas não há material prático para
provar.
Perto do tempo das grandes navegações, a humanidade européia foi
parcialmente dizimada pela peste negra, que eles acreditavam vir dos ratos, mas
passaram-se séculos para saber que o vetor era a pulga do rato, responsável
pela transmissão desta zoonose.
Em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial, a
gripe espanhola matou entre 25 e 40 milhões de seres humanos em todos os
continentes. Nada se guardou de material de análise para estabelecer estudos
profundos do vírus. Em 1976, começaram a aparecer mortes que lembravam a gripe
espanhola. O governo americano promoveu um cerco epidemiológico e aprofundaram
os estudos.
Chegou-se então a um vírus que estava presente nas aves, se
transmutava nos porcos e atingia o ser humano com alta letalidade. Foi por isso
que recentemente a China promoveu uma grande matança de porcos para evitar a
infestação humana. E o vírus é exatamente o H1N1, talvez com alguma variante.
A
Organização Mundial de Saúde mantém rédeas curtas sobre os estudos e fornece
orientações bem como subsídios práticos para imunizar populações. E, com a
globalização, a rapidez dos contágios é vertiginosa. Saúde Pública é uma coisa
muito séria, e por ela, vacina-se, mata-se animais de criação, enquanto os
cientistas solitários buscam o isolamento,
a inativação dos vírus e a imunoterapia ideal para salvar vidas humanas.