Nesta semana que passou aconteceu tudo neste mundo.
Começou com o tombo da Odete Roitmann num buraco de calçada no Rio, que lhe
custou uma horrenda cara roxa e o repuxamento de todas as plásticas feitas ao
longo das últimas décadas. Ela está vociferando ameaças caso a prefeitura não
conserte o objeto de sua desgraça (a cara ou a calçada), e protesta enquanto o
Sumo Pontífice Francisco caminha simpaticamente de papamóvel pelas ruas
nojentas do Rio e é saudado por milhões de seus fiéis.
O Papa foi a Aparecida do Norte e o povo enfrentou a
chuva, fora o frio glacial, só para ver sua Santidade e receber sua longínqua benção.
E ele parece imperturbável, mostra-se sorridente pois não foi convidado a comer
nenhuma coxinha frita nos postos de gasolina perto do santuário. Se fosse,
conheceria de perto como funciona o intestino do brasileiro médio. Então ele
volta para o Rio; sorri sempre e beija as criancinhas e faz seus discursos.
Inegável sua verdade maior:- é na mão dos jovens que está o futuro do mundo!
Enquanto isso o pau come em Roma por conta dos escândalos do Vaticano. Assim,
eu diria que, mesmo com o frio e a infra-estrutura sanitária porca do Rio de
Janeiro, ele tem motivos para sorrir. Primeiro porque é humilde, depois porque
não precisa enfrentar o quebra pau de manifestantes que sucedeu seu passeio e,
finalmente, porque é um monarca sem concorrência neste lugar. Aqui pode haver
bispos, pastores, guias espirituais, políticos corruptos ou não, mas não há nenhum monarca como ele.
Aliás, esta é a semana das monarquias. Em Londres,
veio ao mundo o garoto Sua Alteza Real o Príncipe de Cambridge George Alexander
Louis, terceiro na linha de sucessão no governo da velha Inglaterra. Foi como
um conto de fadas, e os mais mal-humorados da mídia eletrônica jogaram
xingamentos contra a expectativa do mundo neste nascimento aristocrático. Ora,
deixa o povo sonhar. Por que razão haveremos de botar na cara um mau humor dos
diabos quando o menino nasceu forte, neto de Di e primeiro filho de Kate e
William? Queriam um terremoto como o de Lisboa em 1755 seguido de dois
tsunamis? Enfim, há perfil para tudo.
Falei em monarquias. Sim, a diferença entre o Papa e
o pequeno George está no tipo da monarquia. O Papa é Monarca Vitalício eleito
pelo Colégio Cardinalício. O menino que nasceu é o terceiro na linha sucessória
de uma monarquia parlamentar onde os bens da família real não são misturados aos
bens do tesouro nacional inglês.
O direito ao sonho é um direito inalienável, cabe a
todos e, os bons conhecimentos de imaginário coletivo ainda nos levam de volta
ao mundo da Cinderela e da justiça verdadeira entre os homens. Odete, você não
é a única mortal vítima do descaso e da incúria dos nossos governos.