Eu tinha feito um juramento para São Guinefort que
prometia não falar em protestos desde que eles haviam se tornado uma catarse
popular em função de um monte de pequenos nadas. Devolveria o papo quando os
protestos se tornassem consistentes se dirigindo a um pouco de grandes motivos,
e é isso que parece estar acontecendo agora.
Saúde, educação, transporte, carestia, corrupção.
OK. Agora temos um conjunto plausível de requerer barulho, e assim, o povo,
tendo saído vitorioso da questão do preço do transporte, agora tem uma frente ampla de reivindicações
bem melhor delineada. Depois, cá entre nós, se é possível fazer os empresários
abaixarem o preço da condução, ficou muito claro que também outras coisas são
possíveis, como tratar dos assuntos referentes à saúde, escola e alimentação.
Nestas demandas, o governo roda como um peru bêbado. Atos isolados não resolvem
nada, e o dinheiro dos impostos foi malversado em corrupção e estádios de
futebol. Meus ouvidos são bons. Ultimamente, quando tem um jogo importante
qualquer, são poucos os que soltam rojões a comemorar. Então, o que foi que se
mexeu na base das cabeças do povo? Teria sido a súbita consciência de que
cadeia foi feita só para pobre, preto e puta? Ou então está toda a gente mergulhada
até o pescoço de contas a pagar e o salário não é suficiente?
Estaria eu
enganada ou o objeto principal dos ataques seriam as grandes agências
bancárias? Sim, elas coordenam qual marionetes as dívidas dos cartões de
crédito, são o agente mais imediato entre o Ministério das Finanças e o povo. Não
se pune os corruptos e estamos a parecer com a Grécia atual. E será que
Brasília não percebe?
Quando o povo se enfurece, saem as tropas de choque
com seu sadismo habitual para reprimir. Mas não adianta. Agora, a boiada
estourou e é difícil de conter. Os sindicatos que haviam cooptado com o chamado
governo da esquerda, não tem mais poder de barganha nem são respeitados pelos
trabalhadores. Isso, naturalmente sem contar que existe uma massa de mão de
obra ociosa que não vê saída para o desemprego. E daí, o que será dos nossos
filhos? Então tudo se torna motivo de grandes paradas: Parada Gay, Evangélica,
Movimento Passe Livre, Movimento dos Sem Terra. E agora, para dar parafuso na
cabeça dos governantes, Paradas de tudo contra o que entendem estar errado.
Difícil encontrar saída institucional para tudo. Então, que se leia a
Constituição e cumpra-se a lei. Este é o básico. Depois, esqueça-se de
grandiloqüências e foque-se em um problema de cada vez. Descartes tinha razão.
Por partes se resolve tudo.
Ah, e quanto ao Santo Guinefort, foi o povo que o
santificou no século XIII. Era um cachorro que salvou uma criança de ser
atacada por uma grande serpente.
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