domingo, 29 de junho de 2014

CHIMAMANDA ADICHIE




Em pleno ano de 2014, uma tropa de idiotas de antolhos se aliena da sorte do planeta zurrando a cada gol que acontece nas arenas modernas brasileiras para saber quem vai ser o próximo dono da taça da Copa. Ninguém fala da séria ameaça que reapareceu em países Atlânticos da África (Serra Leoa, Guiné, Libéria) onde o devastador vírus do Ebola recomeçou a produzir centenas e centenas de vítimas fatais. Todos deviam saber que a globalização espalha com grande rapidez as doenças contemporâneas, veja-se por exemplo o fantasma da AIDS que ainda paira sobre todos os continentes, pois o itinerário da economia é o mesmo das epidemias. Mas o futebol anestesia as percepções sociais de maneira assustadora. Assim foi por exemplo o que aconteceu em 1970. Enquanto o carnaval de rua comemorava o nosso título de campeões, estávamos vivendo o auge da ditadura militar e tínhamos uma censura tão forte que mal sabíamos que havia um genocídio de proporções homéricas em Biafra, com a conivência das maiores potencias mundiais.

Chimamanda Adichie,  uma Nigeriana de 37 anos, descendente de vítimas daquele genocídio, deu-nos uma obra monumental publicando, já em 2006, o epopeico "Meio Sol Amarelo", que no Brasil a Companhia das Letras traduziu e trouxe-nos à luz. Na década de 60, a Nigéria ficara independente e era composta de muitas etnias, entre as quais os ibós, os iorubás, os hauças, fora outras mais. Porém, essas principais etnias passaram a disputar o poder, e em 1967, os ibós deslocaram-se da Nigéria para formar a República de Biafra. Isso provocou uma guerra civil que os antigos imperialistas, a Inglaterra e os EUA assistiram de camarote, inclusive cerceando as informações para a imprensa mundial. Biafra ficou acantonada no Leste e os acessos das entidades humanitárias eram bloqueados muitas vezes, de modo que os Ibós foram mortos em combate e, majoritariamente de fome, por falta de assistência do mundo ocidental. Em janeiro de 1970, vendo o povo morrer de fome e as aldeias serem literalmente assassinadas, os biafrenses se renderam e a Nigéria voltou a ter poder sobre a região do leste, rica em petróleo.

Chimamanda resgatou neste memorável livro, através de um romance que tem fundamentos reais, o sofrimento do seu povo, a ignorância dentre as categorias mais humildes da população, a islamização de parte da Nigéria em contrapartida da evangelização católica anglicana dos demais grupos. As dezenas de milhares de pessoas mortas nestas lutas foram notícia muito depois, e o Brasil que tem no DNA do seu povo uma enorme participação dessa gente negra, enquanto tudo isso acontecia, fazia festa como se a desgraça também não nos pertencesse.

Deus salve as nossas consciências.



Vitória e Vergonha



Não gosto de futebol. Menos ainda de ser minoria oprimida pela maioria. Tenho um amigo que viajou para Austrália a fim de se livrar da balburdia brasileira da Copa. Como não tenho dinheiro para tanto, reduzi-me ao retiro do lar onde o televisor está sempre desligado. O que me chega da rua é um pouco do som de vuvuzelas e alguns rojões que assustam meus cachorros. Enquanto tantos tolos correm nos campos atrás de uma única bola, os que foram aos estádios começam por xingar nossa presidente e instala-se um clima de ludibriar a vigilância para assistir o jogo de graça. Os que pagaram alto preço por um ingresso, sujam os estádios como porcos em seus chiqueiros, e então, grupos de japoneses fazem a coleta da imundície brasileira para levá-la ao lixo. Este fato constatei na internet, e tive vergonha. Também odiei as atitudes racistas e as homofóbicas que se fizeram presentes em vários jogos.

Não creio que o Brasil possa levar o título.Se o fizer, será mais sorte do que talento. E, mesmo que ganhe, o que será o país no Day After? Estaremos todos pagando caro a péssima condução que nos leva ao trabalho. Voltaremos às linhas de produção, às escolas, aos estabelecimentos comerciais e o valor do Real será o mesmo de todos os dias, comprando cada vez menos. Os professores continuarão a domesticar os alunos e, então começará uma outra empreitada: a Campanha Eleitoral. Os resultados da Copa serão certamente usados como instrumento da situação ou da oposição, mas, nós eleitores nada temos a ver com isso. Não chamamos este evento para cá nem respondemos pelos gastos que ele nos trouxe. Mesmo assim o dinheiro público foi utilizado para gastos que nem sequer foram decididos pela Senhora Presidente. Foi a herança maldita do governo anterior, mas o barril de cachaça terá tirado seu time de campo, pois há outros que podem ser fritos em seu lugar.

Nos últimos tempos só houve oportunidade de mandar uns poucos para a Papuda. Agora, falta mandar a escória do PSDB que tem tantos escroques quanto o PT. Quando eu era professora do Mestrado na UFRJ, tive uma aluna que era professora da rede em São Paulo mas tirava continuadamente licenças médicas para permanecer no Rio de Janeiro. Indagada sobre essa "facilidade",ela prontamente respondeu: "Lá no Vale, onde moro, tem um médico fazendo carreira política. Então ele me dá os atestados e lá em casa fazemos campanhas para ele!"Você já viu carioca ficar assustado? Pois eu vi. Então vamos às falas: Nosso país precisa ou não ser todo repensado? Os políticos, seja lá de que partido venham, tem que ter a vida levantada e monitorada em todos os aspectos. Só assim aparecerão caras novas e, talvez, mais honestas. Em tempo, essa será a última eleição que terá meu voto compulsório.