quarta-feira, 9 de maio de 2012

LEMBRANÇAS DO MEU IRMÃO



Hoje, 9 de maio, fazem três anos que o meu irmão Sérgio faleceu. Ai, que tristeza e quanta saudade. Ele era um ano mais velho do que eu, então, passamos a infância brincando juntos no maravilhoso quintal da nossa casa, tão bem cuidado de plantas, árvores, gramados, jardins de hortências e tudo o que se pode imaginar de um imenso terreno plano, com caminhos para passeio de bicicleta e muito mais.
Crescemos. Fui ao colégio das freiras aprender a ser uma moça prendada para ter um bom marido. Ele foi para um colégio leigo, onde nos juntamos alguns anos depois. Íamos juntos a festas, nos divertimos muito. Mais tarde, ele foi estudar medicina veterinária e eu História, na mesma USP, a melhor universidade da América do Sul. Estávamos sempre juntos, foi bem a época da ditadura militar. Nós abominavamos aquele autoritarismo, e fomos juntos para os protestos e passeatas. Em 1972 casei-me com um colega de turma de meu irmão, que se tornara amigo pessoal desde 1964. E eu não era uma moça prendada nem contida como nossos pais queriam. Mesmo casada, ainda militava contra a ditadura, mas meu irmão escolheu outro caminho. Tornou-se alcóolatra e não pudemos cuidar dele pois minha mãe não deixava. Casou-se com uma boa moça, teve dois filhos, mas enviuvou rápido demais.
Em 1997 seu organismo protestou de tanta injúria; minha mãe deixou então que cuidássemos dele. Nunca mais bebeu. Trabalhava com farmacologia e ficou por onze anos cuidando da vida, sem mulher e com filhos em fase de formação.
Durante este tempo, voltamos à amizade que consentia tudo, menos o álcool. E, quando esses onze anos se passaram, sobre a antiga cirrose veio o câncer. Foi um periodo muito doloroso para nós. Ele entendia o que estava acontecendo e ficou no hospital a consolar quem o visitava.
Naquela época eu estava fazendo uma reforma nas salas de casa e tinha que assentar piso novo. Pois bem, debaixo de cada lajota, há lágrimas que eu chorava por ele. O pedreiro me consolava e eu pedia a ele que me deixasse chorar. Na noite do dia 9 de maio ele faleceu. Suas córneas foram doadas e, no dia seguinte, domingo, dia das mães, desceu ao túmulo onde agora, quando muito pode receber algumas flores. Ele se foi sabendo que nós o amávamos demais, porém, como disse-me uma amiga, precisava ser tão cedo?