terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CONCURSOS

Tenho um notável amigo que, aos trinta anos, já defendeu seu mestrado, depois passou-se ao doutorado na Sorbonne e atingiu o grau de Doutor com todas as láureas possíveis, entre as quais a possibilidade de desenvolver um trabalho em Cambridge. Quando veio ao Brasil, depois do seu doutorado, tinha a vontade de ficar aqui, uma vez que sua família mora no Estado de São Paulo. Meu amigo chama-se Eduardo Heirich Aubert e é filho de um semioticista da Universidade de São Paulo, de nacionalidade norueguesa. Até pela história de família, Eduardo tinha uma formação requintada. Estudou dez anos de canto lírico, e quando se dedicou à carreira de medievalista, afundou-se nos mosteiros da Europa a fim de classificar fontes históricas medievais no terreno do canto. Realmente, seus estudos foram difíceis e sofisticados. Mas o levaram a uma erudição sem limites, enfim, tornou-se um intelectual respeitabilíssimo em Idade Média apesar de ser tão jovem.
Com a expansão da rede de Universidades públicas federais no Brasil, abriram-se muitas vagas para professores do ensino superior. Entre essas vagas, surgiu uma no campus de Guarulhos, especificamente de História da Arte Medieval. Meu amigo pegou seus documentos, seu Currículum Lattes e fez a inscrição. Evidente, ele era um candidato de fôlego, e estava para os demais concorrentes mais ou menos como Maria Callas está para Tati Quebra Barraco, ou seja, não vê a discrepância quem é cego, ou melhor, neste caso que citei, quem é surdo.
Mas não era propósito da banca examinadora verificar quem era melhor. A eles interessava dar a vaga a pessoa do grupo, melhor dizendo, da “curriola”. E essa pessoa tinha um Curriculum Lattes totalmente voltado para História da América, o que por si só significava criar uma professora que ministrasse aulas em absoluto desconhecimento da matéria de História Medieval. Lembro aqui que um medievalista tem que ter o domínio de várias línguas, inclusive em suas versões arcaicas, fora, naturalmente, o latim e o grego. Assim, ser Medievalista é muito difícil e carece de bagagem intelectual imensa.
Para espanto de todos, a presidente do processo seletivo era uma médica da UNIFESP. Ora, uma médica está tão inapta a julgar concursos de Medieval, quanto um medievalista é inapto para ser da banca examinadora de um concurso de cirurgia ou qualquer especialidade médica.
Deu no que deu. Esta banca de má fé ignorou o saber de Eduardo e deu a vaga à tal professora que só tem currículo de América. Os fatos por si só são nojentos. Pior ainda, revelaram o lado corrupto daqueles que se entendem inteligência nacional.
Sou doutora em História Social da Idade Média há um quarto de século. Agora, aguardo a Justiça em nome do que SABE mais.

2 comentários:

Ricardo disse...

E eu, na minha "santa ignorância", imaginando que isso só acontecia na Educação Básica de TODOS os municípios da nossa região...

Anônimo disse...

Agora que passou o Carnaval, não é hora de fazer faxina nas Universidades Públicas também?