O que temos visto nos últimos dias no Brasil é uma
movimentação revoltada do povo, de princípio devido aos abusivos aumentos do
transporte público. No entanto, por trás dos protestos aparecem muitos fatores
que de sobra são um bom motivo para a grita coletiva. Na verdade, o Brasil está
com uma inflação acelerada novamente, as pessoas embarcaram em empréstimos
bancários cujos juros escorcham os usuários, a classe média foi sufocada e as
verbas públicas se prestam a uma série de auxílios sociais que mais acomodam do
que estimulam a população carente.
Quem não tem competência não se estabelece. Era esse
o velho ditado que se usava para falar dos fracassados ou dos pretensiosos. E
havia também em nosso país uma rançosa crença de que o povo é pacífico e se
contenta com pouco. Pois nesses últimos dias, a quem prestou muita atenção nos
movimentos que ocorrem por todos os estados brasileiros, ficou claro que a
população está ficando mais seletiva. E também, essa mesma população exige
transparência nos gastos públicos pontuando solenemente que não está mais a fim
de ter apenas pão e circo. Isso fica bem claro nas manifestações que envolvem
críticas aos bilionários estádios de futebol para abrigar as Copas e as
Olimpíadas. Acontece que o Brasil é um
país emergente, e entre as prioridades estavam a saúde e a educação, ambas
prejudicadas de longo tempo. Assim, fica bastante claro: não temos como bancar
grandes eventos tipo copa e olimpíadas, mas o ex-presidente bufão nos jogou na
garganta profunda deste monstro que consome o nosso dinheiro, enquanto crescem
as filas nos hospitais e temos uma educação de baixíssimo nível.
Ao longo da História, muitas rebeliões ocorreram em
época de práticas esportivas. Para quem viu o quebra-quebra dos últimos dias,
deve ter ficado claro o ódio popular contra as instituições bancárias. Também,
o mesmo ódio voltou-se contra a Assembléia do Rio que, invadida, foi destroçada
por um grupo mais radical. E os Estádios de futebol são protegidos pela polícia
como se fossem santuários de Meca. Ora, não é só pelo preço das passagens que o
povo grita. Penso que há no inconsciente coletivo as imensas toneladas de grãos
de soja que não foram embarcadas nos portos nem voltaram para virar leite para
o povo. Os portos são insuficientes, mas a justiça social consegue ser ainda
pior. Obras de porte como a irrigação de áreas da seca com águas do Rio São
Francisco, estão paralisadas enquanto um jogador de futebol cretino declara que
sem estádio não há copa. Ronaldo pode enriquecer com futebol, mas certamente não
irá dar aos nossos filhos a formação que precisam. Nem enfrentará uma fila do
SUS como eu, como você, meu compatriota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário