sábado, 23 de março de 2013

FRANCISCO


O novo papa Jorge assumiu o nome de "Francisco" e, como não poderia deixar de ser, existe uma intencionalidade na escolha de seu nome pontifical. Ele, oriundo da Ordem Jesuítica, de Santo Inácio de Loyola e das linhagens de catequistas, tomou para si o nome de Francisco, o fundador de  uma Ordem Monástica para a qual a Pobreza era o ideal de estilo de vida.
O Francisco original nasceu por volta de 1181 - século XII- e foi criado como os burgueses de sua época, em Assis. Era um fanfarrão, freqüentador de botequins e levava a vida típica de um jovem, em altas farras com seus amigos, nas tavernas, entre mulheres e vinho. Na idade apropriada, seu pai armou-lhe e mandou-o para as guerras da Apúlia, no sul da Itália. Lá, o jovem Francisco pegou uma dessas febres maláricas e teve de retornar a Assis. Então, sua mãe, que era uma doce francesa da Provença, dedicou-se ao seu tratamento, que variou de alternância entre estados sóbrios e estados de altos delírios febris.
Com o passar do tempo, os plasmódios foram se acomodando ao seu organismo e Francisco entrou em franca convalescença. Foi nesta fase que ele se deu conta da diferença que havia entre os ricos burgueses e os pobres que trabalhavam insanamente para eles, inclusive para seu pai, que era um processador e requintador de tecidos vindos do norte da Europa. Francisco revoltou-se por aquela pobre gente. Abriu as janelas dos depósitos e jogou por elas o tecido pronto estocado para a rua, onde transitavam outros pobres. Seu pai revoltou-se, sua mãe defendeu-o, mas o velho comerciante de tecidos de luxo teve que amargar o enorme prejuízo causado pelo filho.
 As bizarrices do filho estavam só começando. Na missa de domingo, acompanhou os pais à igreja e deu-se conta de que os bancos eram reservados aos ricos, enquanto os pobres amontoavam-se no chão dos fundos para assistir à missa. Viu a riqueza do altar e o rosto macerado de Cristo no crucifixo, então teve outra crise de inconformismo, gritou, e foi levado para o pátio frontal da igreja, onde discutiu, frente aos padres e o populacho, com seu velho pai. Para nada dever ao velho, ficou nu em pelo e depois, embrulhado em uma capa que o bispo lhe deu, saiu da cidade e foi se alojar na Porciúncula, que era uma velha capela em ruínas. Começou piedosamente  a cuidar de leprosos e pobres. Nessa altura, outros jovens reuniram-se a ele e criaram a ordem franciscana, totalmente dedicada aos necessitados. Mas, precisavam de ordem do papa a fim de não serem considerados hereges. Foram a Roma. Como por aquela época estivesse crescendo a heresia cátara, o papa Inocêncio III deu aos Franciscanos seu reconhecimento, para que pregassem a doutrina católica, então corrompida pelas heresias. Assim a ordem recebeu regras e passou a dedicar-se tanto aos pobres e doentes como à pregação.
Penso ser possível entender por essa rápida biografia porque o papa recém eleito tomou o nome de Francisco. As demandas da Igreja atualmente são as mesmas. Ela perde seus adeptos, não cumpre seu papel de amar a Deus e ao Próximo, enquanto a cúria destroçada está repleta de vícios e corrupção. Semana que vem volto ao tema e vamos analisar a profunda humanidade de Francisco, o santo mais universal da igreja, respeitado por católicos, espíritas e até ateus marxistas.
Você ja viu Irmão Sol, Irmã Lua em filme? Belíssimo, é baseado num livro de Nikos Kasantzakis, escritor grego marxista, e o livro chama O Pobre de Deus. Vale a pena.

2 comentários:

Mongiardim Saraiva disse...

Os ciclos se renovam...e o Homem, parece não ter mudado muito, em função de todos esses anos decorridos.

Belo descritivo, acerca das memórias da nossa Humanidade.

Um beijo Ivone e parabéns pela crônica!!!

Anônimo disse...

UM PRESENTE PARA QUEM AINDA NÃO TINHA LIDO NADA ACERCA DESTE NOVO PAPA!.....Estou convicta de que será um excelente Papa! Obrigada, Ivone! Vou partilhar!...Beijinho. Maria José Dos Santos ( fb)