Era uma vez certo garoto educado para ser prodígio.
Ele devia ser bom em tudo. Sensível, religioso, administrador, desapegado,
criativo, produtor de livros e, perfeito que era (bonitinho também), ser
reconhecido pelos governantes e se tornar secretário da da Educação. E assim
foi. Mas, que energia tinha esse garoto. Menino entre as raposas velhas, ao fim
do expediente recolhia-se ao apartamento e dedicava-se às letras, bons exemplos
aos pais, aos professores, pensamentos superiores, enfim, "fabuloso".
Certa vez foi convidado para dar a aula inaugural de uma faculdade nova que
abria as portas na zona leste da metrópole maior do hemisfério sul, faculdade
esta que trazia o nome de um gênio da educação mundial. No entanto, na data
marcada, o bom menino não apareceu. Entre ahs e ohs da platéia, substituiu-o o
diretor da nova escola e fez o discurso de praxe dessas ocasiões. Não disse aos
alunos que sabia o real motivo da ausência do convidado, mas algo explosivo
estava, ou no ar, ou debaixo do solo onde se afirmava ter havido outrora um
lixão.
Como simples narradora dessa fábula às crianças
desta região, eu me limito a dizer que a situação toda fazia a escola parecer
cagada de arara. Os orgãos competentes garantiram que a caca não viria de
baixo, mas quis o destino que viesse de cima. Então, como foi? Pois bem, uma das
mais consagradas revistas semanais (Veja), publicou na véspera a real história
do piedoso menino. Secundando uma alegre foto do então já homem, acompanhado de
seu amigo íntimo numa praia da França onde se banhavam ao sol, a reportagem
trazia a denuncia feita ao Ministério Público pelo seu agora ex-amigo.
Conta o ex-amigo das muitas jornadas internacionais
que, fora mandado ao Secretário da Educação por um empresário de ensino que
pretendia vender seu produto educacional à rede de escolas do Estado. Negocião.
O rapaz chegou lá e foi deveras apreciado pelo Secretário, que num estalar de
dedos fez dele seu companheiro de trabalho e deu-lhe um status de Assessor de
Gabinete. Ora, o rapaz era de principio funcionário da tal empresa, mas essa
ficou esquecida entre outros grandes negócios "educacionais" do
Secretário da Educação, entre esses, um negócio da China que se dispunha a
vender antenas parabólicas para 5000 escolas.
Quando as comissões financeiras
particulares do Secretário chegavam em grandes volumes ao apartamento do bom
menino, ele que dava ao dinheiro o codinome de "Vanderlei",
espalhava-se no closet em meio às notas e banhava-se nelas como se fosse a
piscina do tio Patinhas.Fizesse o que quisesse com o dinheiro, se esse fosse
seu, e não da corrupção. Mas o bom menino conseguia ainda prodígios. Com uma
comissão de ghost writers, lançou mais livros que o Paulo Coelho. 64 ao todo,
para lustrar sua biografia e seu ego, nem um pouco modestos. Para quem faz
carreira das letras, imagine o que foi e quantos anos levaram os bordados
lingüísticos de Guimarães Rosa, talvez o maior escritor brasileiro. E o que
diria Machado de Assis com uma vida dedicada à literatura? E para os que
produzem ciência que levam anos para produzir um trabalho de 100 páginas? Isso
me endoidece pois pertenço ao último grupo.O bom menino admitiu: "Eu estou
acabado". Antes assim. Antes tarde do que nunca, e sempre sem esquecer: De
bons amigos o Inferno está cheio.
E, de qualquer forma, essa intimidade de closet não nos parece um tanto intimidade demais?
Um comentário:
BRAVÍSSIMO!!!
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