Ratzinger não morreu, logo, não há necessidade de
tempo para as pompas fúnebres nem para o luto. Então, o Conclave vai ser
adiantado e, logo saberemos quem herdará os pepinos de Bento XVI. Pepinos
mesmo, com P maiúsculo, mas isso, todo mundo já sabia ou pelo menos uns tantos
estudiosos da História da Igreja imaginavam. Pode ser muito pequeno, mas o
Vaticano é um Estado independente como a Inglaterra, por exemplo. É também uma
monarquia vitalícia com todos os protocolos que uma casa real pode ter. Mas não
é uma monarquia absoluta, logo, resta-lhe ter todos os cargos de especialistas
nas diversas causas de Estado, como chefes das finanças, da casa civil, da
justiça, e por aí vai. Um Estado minúsculo como Mônaco, mas um Estado, com
representação diplomática e tudo. O que difere das demais monarquias, é que o
Papa não engravida nem deixa herdeiros, logo, quando o Monarca Pontifical
falece, está estipulado desde 1179 que deve haver um conclave de cardeais para
escolher a sucessão. A Veja da penúltima semana errou ao atribuir as eleições
ao tempo do papa Nicolau II em 1059. Pobre Nicolau, ele pode até ter tido a
idéia, mas como não tinha feito o curso da Justiça Eleitoral Brasileira,
desconsiderou os eleitores, que naquela época eram três ou quatro cardeais
apenas. Ô tristeza. Até 1179, houve tantos anti-papas quanto papas, pois os
poucos cardeais eram representantes da aristocracia romana, e esta, não abria
mão do poder por nada. Roma era então uma festa.De certa feita, caçaram um
anti-papa, envolveram-no numa pele de animal recém imolado e fizeram-no
caminhar todas as ruas da cidade no lombo de um burro, para ser bem humilhado.
Quem quiser saber mais pode ler meu doutorado, da USP. Mas o papa Alexandre
III, de 1179 instituiu normas para a eleição, da qual exigia maioria absoluta e
um colégio cardinalício dilatado numericamente.
É de se perguntar o que mudou dali para cá. Pouca
coisa, se é que podemos chamar mesmo aquele trono de Trono de Pedro do Reino de
Deus. E também, as influências dos reinos de fora continuaram a exercer seu
papel da mesma forma que a antiga aristocracia de Roma. O papa que mediou o
Tratado de Tordesilhas era espanhol, e isso explica porque Portugal recebeu
menos terras que a Espanha em 1494. Esse exemplo é só para mostrar o quanto a
Igreja se metia com poderes materiais em vez de se contentar com o poder
espiritual. Que dizer então do papa Pio XII que fez acordos com Mussolini para
ter a posse total sobre o Estado do
Vaticano? De lá para cá, já vivi muitos papas.Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João
Paulo I, João Paulo II e Bento XVI. Vi muitos escândalos também, apimentados ou
de corrupção. Agora, vivemos numa época em que o silêncio não é mais possível.
Vende-se informações, as redes sociais multiplicam-nas, e cada Estado virou um
Big Brother de primeira grandeza. Os desvios de dinheiro são rastreados e os
hábitos pessoais que estão abaixo da batina, aparecem com clareza. Então Bento
XVI fez o que fez. Do alto dos seus 85 anos, não teve dúvidas: mandou que os
cardeais tivessem cópias de todos os escândalos, demitiu altos funcionários e
chutou o pau da barraca.
Vale contudo indicar o Ratzinger teólogo. Seus
livros sobre Jesus de Nazaré, são muito interessantes. Recomendo o conceito de Reino de Deus.
Puramente sério e abstrato.
Um comentário:
Belas e interessantes informações, Ivone...Beijo!!! Carlos Saraiva
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