quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O CONCLAVE VEM AÍ


Ratzinger não morreu, logo, não há necessidade de tempo para as pompas fúnebres nem para o luto. Então, o Conclave vai ser adiantado e, logo saberemos quem herdará os pepinos de Bento XVI. Pepinos mesmo, com P maiúsculo, mas isso, todo mundo já sabia ou pelo menos uns tantos estudiosos da História da Igreja imaginavam. Pode ser muito pequeno, mas o Vaticano é um Estado independente como a Inglaterra, por exemplo. É também uma monarquia vitalícia com todos os protocolos que uma casa real pode ter. Mas não é uma monarquia absoluta, logo, resta-lhe ter todos os cargos de especialistas nas diversas causas de Estado, como chefes das finanças, da casa civil, da justiça, e por aí vai. Um Estado minúsculo como Mônaco, mas um Estado, com representação diplomática e tudo. O que difere das demais monarquias, é que o Papa não engravida nem deixa herdeiros, logo, quando o Monarca Pontifical falece, está estipulado desde 1179 que deve haver um conclave de cardeais para escolher a sucessão. A Veja da penúltima semana errou ao atribuir as eleições ao tempo do papa Nicolau II em 1059. Pobre Nicolau, ele pode até ter tido a idéia, mas como não tinha feito o curso da Justiça Eleitoral Brasileira, desconsiderou os eleitores, que naquela época eram três ou quatro cardeais apenas. Ô tristeza. Até 1179, houve tantos anti-papas quanto papas, pois os poucos cardeais eram representantes da aristocracia romana, e esta, não abria mão do poder por nada. Roma era então uma festa.De certa feita, caçaram um anti-papa, envolveram-no numa pele de animal recém imolado e fizeram-no caminhar todas as ruas da cidade no lombo de um burro, para ser bem humilhado. Quem quiser saber mais pode ler meu doutorado, da USP. Mas o papa Alexandre III, de 1179 instituiu normas para a eleição, da qual exigia maioria absoluta e um colégio cardinalício dilatado numericamente.
É de se perguntar o que mudou dali para cá. Pouca coisa, se é que podemos chamar mesmo aquele trono de Trono de Pedro do Reino de Deus. E também, as influências dos reinos de fora continuaram a exercer seu papel da mesma forma que a antiga aristocracia de Roma. O papa que mediou o Tratado de Tordesilhas era espanhol, e isso explica porque Portugal recebeu menos terras que a Espanha em 1494. Esse exemplo é só para mostrar o quanto a Igreja se metia com poderes materiais em vez de se contentar com o poder espiritual. Que dizer então do papa Pio XII que fez acordos com Mussolini para ter a  posse total sobre o Estado do Vaticano? De lá para cá, já vivi muitos papas.Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI. Vi muitos escândalos também, apimentados ou de corrupção. Agora, vivemos numa época em que o silêncio não é mais possível. Vende-se informações, as redes sociais multiplicam-nas, e cada Estado virou um Big Brother de primeira grandeza. Os desvios de dinheiro são rastreados e os hábitos pessoais que estão abaixo da batina, aparecem com clareza. Então Bento XVI fez o que fez. Do alto dos seus 85 anos, não teve dúvidas: mandou que os cardeais tivessem cópias de todos os escândalos, demitiu altos funcionários e chutou o pau da barraca.
Vale contudo indicar o Ratzinger teólogo. Seus livros sobre Jesus de Nazaré, são muito interessantes.  Recomendo o conceito de Reino de Deus. Puramente sério e abstrato.

Um comentário:

Mongiardim Saraiva disse...

Belas e interessantes informações, Ivone...Beijo!!! Carlos Saraiva