sexta-feira, 4 de abril de 2014

HISTÓRIA, LUTO E FESTA



Esta semana foi marcada por perdas e reconhecimentos interessantes para nós. Localmente, lamentamos o falecimento da Professora Doutora Geraldina Porto Witter, que foi uma grande cientista no campo da Educação. Minha professora nos tempos em que fiz meu bacharelado e licenciatura na USP, ela se consagrou como autoridade em carreira acadêmica, deixando linhagens de pesquisadores.

Mundialmente,  perdemos talvez o mais importante Historiador contemporâneo, o Medievalista  Jacques Le Goff, aos 90 anos em Paris. Para a formação de Historiadores em nosso país, ele foi a mais importante referência pois, sendo um continuador da Escola dos Annales, ampliou as novas perspectivas de análise dos fatos históricos e dos grupos sociais, introduzindo em suas obras o uso de outras ciências, como a antropologia, por exemplo. Compôs obras gerais sobre Idade Média, depois foi retalhando os segmentos da sociedade para promover a compreensão e avaliar o papel dos diferentes grupos na construção das mentalidades. Assim, estudou os intelectuais, os banqueiros e mercadores, o campesinato e a nobreza, demonstrou como a figura do Purgatório foi introduzida apenas no início do segundo milênio provando através de fontes arquivísticas que o desenvolvimento do comércio e da burguesia promoveram na Baixa IdadeMédia a idéia de que os pecados poderiam também ser negociados com Deus (parece bizarrice, mas não é) e, finalmente, deu lugar ao indivíduo na história indo além da biografia do santo rei de França S. Luis e biografando  também São Francisco, dentro da mais acurada metodologia de trabalho. E, por falar em metodologia e saber científico, foi ele também o autor majoritário do primeiro volume - Memória/História - grande enciclopédia temática EINAUDI, cuja cientificidade é absoluta em múltiplas áreas do conhecimento. Ali, ele saiu da roupa de medievalista para discutir em todos os planos "Memória, Documento/monumento, História, Calendário,  Passado/presente, Idades míticas,Progresso/reação, Antigo/moderno, Decadência e finalmente, Escatologia". Deixou um legado de sabedoria para os profissionais brasileiros da História, que pode ser qualificado de indispensável.

 

E finalmente, precisou um Jesuíta chegar ao Papado para que o papa santificasse aquele jovem jesuíta do século XVI que aos 20 anos deixou território espanhol  e veio para o Brasil, com Manuel da Nóbrega, fundou a maior cidade do hemisfério sul, em 1554, a nossa São Paulo de Piratininga. Defendeu os índios da escravidão, pacificou tribos e depois caminhou pelo litoral brasileiro, voltando para morrer no Espírito Santo aos 63 anos. Há um fêmur seu exposto no relicário do Pátio do Colégio,  onde nasceu São Paulo, a nossa impressionante metrópole.

  

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