quarta-feira, 28 de novembro de 2012

UM TEMPO PARA PENSAR

Quando uma pessoa que está sob os olhos da justiça e da nação é processada e condenada a uma pena de sete anos e dez meses de cadeia além de uma multa que, nós mortais comuns,jamais teremos, imaginamos: fazer o que? Ficar em algum trabalho durante o dia e ir para a cama exígua do presídio quando anoitece? Ver televisão? Ficar sem whiskie e jantar a comida feita atrás das grades?

Essas dúvidas são naturais pois na cabeça das pessoas normais, o lar é o recolhimento noturno, enquanto o dia foi feito para trabalhar muito e ganhar o sustento desse lar cujos impostos municipais, estaduais e federais levam quase a metade da renda. E as criaturas do povo não “lavam” dinheiro, não recebem propinas em troca de votos parlamentares, necessitando muitas vezes ter um segundo emprego para aumentar a renda da família.

Pois é, um político local muito conhecido foi condenado à pena acima pelo Supremo Tribunal Federal, e agora vai despejar o seu milhãozinho nos cofres públicos e mudar temporariamente seu modo de vida. Até que ponto, pergunto eu? Esse regime semi aberto não vai tirar o condenado das intrigas palacianas nem vai corrigir seus maus hábitos de fazer o que bem quer. Pior, vai ficar fora durante o dia para monitorar e tentar corromper os que investigam novas fraudes que podem lhe incriminar mais. Ora, não foi assim que sua vida se passou até hoje? Por que mudaria?

O Supremo foi benevolente com as penas que atribuiu na Ação 470. Penas baixas para grandes crimes, enquanto o populacho aplaude a esperteza do raposão-menino, e ainda vota nele e em seu partido como se ele tivesse de fato algum interesse em querer o nosso bem. Portanto, considero todos os seus eleitores igualmente condenados, e se isso é impossível pelo direito constitucional, pelo menos coloca uma tarja negra, a marca da indignidade , na manga de quem permitiu a ascensão política do rapaz.

Minhas dúvidas não ficam por aí. De que se ocupará o garoto durante o dia? Saberá ele assentar um tijolo para auxiliar na tarefa de construir casas a um povo que tem carência de habitação? Pintará paredes que ficaram imundas com as inscrições de moleques desocupados? Subirá nos andaimes dos mais altos edifícios da capital brasileira, a fim de limpar os vidros sujos pela poeira ou escorridos pela água das chuvas? Trabalhará em coleta seletiva de lixo ensinando aos cidadãos comuns como se separa o que é descartável? Ou mais, entrará em sala de aula para alfabetizar jovens que vem analfabetos desde as séries iniciais por conta da promoção automática no sistema de ensino? Todas as tarefas propostas são heróicas, nenhuma manchará a folha de serviços de um condenado a regime semi-aberto de prisão. Mas eu duvido que, uma pessoa que passou o tempo aos conchavos pelas esquinas da vida, queira de fato se dedicar a uma jornada de mortal comum. Não abrirá mão dos almoços sofisticados de Brasília, regados a bons vinhos franceses. Nem dos ternos impecáveis, menos ainda da vida de Don Juan cafona das terras tropicais. Não lerá um livro, se é que um dia já leu algum, nem se interessará em fazer um exame de consciência, pois isso não lhe foi ensinado.

Resta-nos o consolo de saber que foi condenado por obra de um honesto homem negro de origem humilde, e esse pesadelo ainda não terminou.Está aberta a temporada de caça aos ratos..
Foi Joaquim Barbosa o relator desse imenso processo 470 chamado vulgarmente Mensalão. Homem pobre, nascido em Minas Gerais, Paraopebas, tem 58 anos e é filho de uma família pobre de negros descendentes dos escravos roubados em África. Ter esse homem, que entendeu que só pelo viés do estudo poderia melhorar sua condição e a de sua família, significa reconhecer tacitamente que um negro humilde tem sim condições de condenar e fazer cumprir pena um delinquente de colarinho branco, político corrupto, ladrão do dinheiro do povo.
O Brasil estava a precisar ver a ordem das coisas se alterar. A cadeia que, neste país é só para pobre, preto e puta, agora vai ter que embalar as noites de branco, porco e ladrão enriquecido ilicitamente. 
E os Partidos políticos, doravante terão que fazer uma bela faxina em seus quadros para que a democracia persista nesta terra brasilis, sem pendores a qualquer tipo de fascismo.

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