quinta-feira, 22 de novembro de 2012

NADA SERÁ COMO ANTES

Só no Brasil acontecem coisas do tipo emendar uma quinta feira, feriado da República com a sexta, o sábado e o domingo e, como terça foi o dia da Consciência Negra, feriado em mais de 600 municípios, emendar também a segunda e a terça. Enfim, só nesta terra cabralina pode-se ficar uma semana inteira, em pleno mês de novembro, sem trabalhar, ou melhor, passeando ou mesmo coçando os escrotos no caso de quem os tem. E daí somos forçados a lembrar a língua afiada do falecido Marechal De Gaulle quando soltou esta pérola: “Il n’est pas un paìs serieux”. Os próprios brasileiros tem consciência de sua malemolência e de seu caráter festivo, mesmo em relação às coisas mais graves que acontecem. Lembram das piadas de mau gosto que nossa gente inventou quando aquele avião da TAM caiu atrás do aeroporto de Congonhas?

Um dos autores nacionais que eu curto bastante é o João Ubaldo Ribeiro, autor de uma alentada obra chamada “Viva o Povo Brasileiro”, onde retorna às origens da colonização de nossa terra, debochando dos nossos canibais que gostavam dos holandeses pois tinham a carne mais tenrinha que os portugueses e, depois, passa por uma saga familiar impressionante com direito a roubos, assassinatos, corrupção e uma infinidade de outros vícios mais, deixando o lado triste das coisas para os pobres, escravos e afins que, por sua vez tinham também sua malandragem bem desenvolvida para auto defesa dos grupos. Desta forma temos a sensação de que o Brasil é esse inferno tropical, um país cheio de maus costumes e de vagabundos.

Vagabundos, certamente os Brasileiros não são. O povo trabalha muito, enfrenta as desditas de um capitalismo selvagem e segue em frente, ficando feliz só em curtir uns feriadinhos a mais. E, na medida em que a população cresce, aumentam suas necessidades, pois as cidades em geral tem carência de infra estrutura urbana, de moradias, de creches, de preparo de mão de obra qualificada, de profissionais da saúde, de know how em pesquisas, de formação de cidadania, e por aí vai.

Agora, em plena época de julgamento dos réus do mensalão, quem quiser pode ver pela TV as cansativas sessões do Supremo Tribunal que tem um processo de mais de 50000 folhas, fora os apensos, onde estão registrados todos os depoimentos de acusados e testemunhas. Os ministros tem um desgaste que não é conhecido do povão. Estão lá eles preocupados com a corrupção nacional quando querem ver os times de futebol se preparando para uma inoportuna Copa do Mundo? Ora, não temos dinheiro para essas firulas, quanto mais para uma Olimpíada a seguir, e o mundo mergulha numa crise que vai se equiparar logo logo à de 1929. Na sombra da inconsciência popular, lá querem saber se o Marcos Valério pegou mais de 40 anos de cadeia e se o Zé Dirceu vai ficar um bom tempo vendo o sol nascer quadrado? Isso passa para o segundo plano.

O impeachment do Collor foi mais animado, carnavalesco mesmo. Um ano ele posava de Indiana Jones, dali a dois estava pintado na cara de todos estudantes o seu bota-fora. E as pessoas achavam que a corrupção parava por ali. Agora, vê-se que não. A oposição chegou ao poder precisando de reparos morais em seus quadros. Mas o julgamento do mensalão e outros que vem por aí, secundados por uma bela crise econômica, darão conta de operar o milagre. Desta vez, “nada será como antes”.

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