terça-feira, 10 de julho de 2012

As mulheres de Jorge Amado (IV)

As mulheres de Jorge Amado (IV)


Gabriela ficou entristecida ao separar-se de seu Moço Bonito. Assim, reduzida à solidão, tratou de acompanhar a parteira Arminda em seu trabalho, bem como a bordar e costurar no tempo que lhe sobrava. E Nacib também caiu numa solidão sem fim. Nem as garotas do Bataclã conseguiam lhe agradar. Além disso, com a dragagem do porto, o progresso de Ilhéus avançava e requeria um bom restaurante. O chefe da oposição política associou-se a Nacib, bem como outros produtores de cacau que não queriam servir de capacho aos velhos coronéis; assim Nacib pode inaugurar seu restaurante e, para tanto, buscou Gabriela de volta. O casal reconciliou-se e a vida de ambos, o árabe e a retirante, estava restabelecida sem os protocolos que a sociedade anterior exigia. Gabriela pode voltar à sua puerilidade e ele ao status de Moço Bonito. Pouco depois disso, o velho coronel Jesuino que matara a mulher e o amante, foi a júri, sendo condenado pelo assassinato, coisa que nunca antes se vira na Bahia.

Gabriela é antes de tudo uma história de resgate e de perdão. Marca bem o rompimento de Jorge Amado com o autoritarismo e a desumanidade do comunismo stalinista que conhecera até o início da década de 50. Ao mesmo tempo, é possível ver o sufoco de sua ortodoxia anterior, graças ao estupendo memorialismo de Zélia Gattai, sua esposa.

As mulheres reais e as imaginárias de Jorge Amado não se limitam, contudo, ao que vimos até aqui. O autor escreveu muito e expôs outros perfis femininos notáveis. Na primeira metade do século XX, suas obras tinham um conteúdo compromissado com os destinos do país, Na verdade, sua literatura acompanhava a linha nacional de Sérgio Buarque e Gilberto Freire. Sua recaptação do indivíduo na história, contrariou o método opressivo do regime comunista e as exigências que o Partido fazia sobre ele, pressões que nem de longe outros autores tiveram. Em obras anteriores, descrevera mulheres, valentes, sem dúvida, mas desprovidas da feminilidade gostosa que ele escancarou depois. Sua última publicação política antes do rompimento foi a obra “O cavaleiro da esperança”, sobre Luis Carlos Prestes. Na década de 50, ainda se concedeu ao luxo de publicar “Os subterrâneos da liberdade” (1955). Depois disso, entregou-se a uma literatura mais lúdica, da qual não escapou sequer seu maravilhoso trabalho “Tenda dos Milagres”, em1969.

As mulheres que sucederam Gabriela, foram todas tipos deliciosos. Quem poderá esquecer a rica Tieta, dona de bordel em São Paulo que se diz por correspondência “muito bem casada”,e que,vinda ao agreste visitar a família que lhe expulsara por descabaçamento, inicia sexualmente o sobrinho Cardo, filho da feroz irmã carola Perpétua, que o havia destinado ao seminário? E Dona Flor, dona de escola de culinária Sabor e Arte, casada com o boêmio Vadinho de quem enviuvou precocemente mas voltou em espírito a lhe atormentar pois o segundo marido era regrado: sexo, duas vezes por semana, com bis opcional aos sábados?

Ai, que saudade de Jorge Amado...

Nenhum comentário: