terça-feira, 10 de julho de 2012

As Mulheres de Jorge Amado (III)

Hoje falo da principal mulher parida pela imaginação de Jorge depois que retornou ao país em 1952, após o nascimento de sua filha. Em 1958, veio ao mundo Gabriela que, como muitas de suas obras, tem edições em dezenas de idiomas.


Não pensem os telespectardores da série “Gabriela”, que verão nesta compacta história o que de fato aconteceu na verdadeira história de Gabriela Cravo e Canela. Por avanços e também carências do trabalho televisivo, o que se vê – tão tarde da noite, aliás – é uma bela adaptação feita por Valcir Carrasco e dirigida pontualmente pelo jovem Mauro Mendonça. O cenário foi remontado no Projac com requintes de perfeição. Só que no livro de Jorge, o início acontece de forma violenta, com o assassinato de Dona Sinhazinha mais o dentista Osmundo, pelo frio coronel Jesuíno Mendonça, e se Jorge iniciou sua obra com o assassinato, muito justo segundo os homens de Ilhéus da época, ele tinha a intenção de trabalhar os avanços de uma elite do cacau pelo atropelamento da História. Gabriela, seus quitutes, seu corpo e as beatas, tudo isso aparece depois.A procissão para pedir chuva não existe. Fora das quengas do Bataclã, Gabriela, soberana, as beatas, caricatas, os coronéis donos da vida e morte de outrem, fora Nacib e uma anêmica oposição, o resto são licenças para tornar o enredo mais palatável ao público em geral, pois, ler o livro dá um trabalho imenso e, tem complicadores nas narrativas de tipos psicológicos ou então de cenas que se tornariam chatas ou repetitivas. A trilha sonora foi retomada da novela anterior e junta Dorival Caymi, Gilberto Gil e a magistral sinfonia para Gabriela, de Jobim, um patacão de ouro da música clássica brasileira.

Gabriela tinha a vida natural vibrando em seu corpo. Escultural e bonita, seduziu Seu Nacib além de todos os homens que freqüentavam o Bar Vesúvio. Lá se instalou vinda da terra gretada pela seca do nordeste, não impôs salário para trabalhar de cozinheira e, em momento algum aceitou as ofertas para ser a “teuda e manteuda” de qualquer coronel rico que ia babar aos seus pés. Deitou sim com seu Nacib, a quem chamava de “moço bonito”, e era assim que queria ficar. Era simplória e pueril. Tanta beleza, tanto peito e tanta bunda, enriquecia apenas com uma flor nos cabelos, pois tinha seu modo infantil, quase instintivo de viver. E foi por isso que, depois de casar com Nacib, não agüentou sapatos nos pés nem vestidos de madame, nem jóias...queria sua vida anterior, seu homem, sua alegria. E nesse vacilo, Tonico Bastos deitou-se com ela, pôs chifres no afilhado Nacib.

Ela não via que isso pudesse ser ultrajante. Pois o tio não lhe usara desde menina?Não dormira com retirantes do mesmo modo como repartia com eles a pouca água e a comida? E agora tinha que deixar o moço bonito Nacib por tão pouco?

Entristeceu, foi costurar para Dora habitando de favor a casa da parteira, deixando seu moço bonito com o coração despetalado.Na semana que vem, veremos a intenção da verdadeira trama e as demais mulheres do imaginário de Jorge Amado.











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