Li ultimamente uma biografia de Jean-Paul Sartre
escrita por Annie Cohen-Solal e, esta biografia me fez reacender vontades de
retomada do que se pensava no tempo do Existencialismo. Pude então confrontar
as nuances opostas da educação dos anos 30 e a atual, que exaspera os
professores, muitos alunos, enfim, os cidadãos em geral. Sartre e sua
companheira, dois filósofos que rejeitavam todo o discurso institucional de sua
época, foram professores de Liceus Franceses e se removiam de um Liceu a outro
de acordo com o Departamento de Educação da época.
Pasmem os leitores,
retomei todos os escritos Sartrianos e também os de Beauvoir, uma pilha
da qual já venci 2/3 e ainda há muito que ler. O casal era absolutamente
libertário. Sartre, em certo momento de sua vida proclama: "Desde que
perdi meu complexo de inferioridade em relação à extrema-esquerda, sinto em mim
uma liberdade de pensamento como nunca tive...saber onde estou só tem sentido a
partir de onde estava", e Beauvoir completa:"tudo gira naturalmente
em torno das idéias de liberdade, vida e autenticidade". Esta é a abordagem
existencial da realidade. As famílias burguesas da França viam o casal com
restrições, mas os alunos rodeavam-nos sequiosos de saber, de viver, de
compreender.
Tudo isso aconteceu antes da 2ª Guerra Mundial, no
entanto os conflitos sociais eram bem parecidos, a insegurança deixava traços
de medo, e Sartre não havia ainda escrito sua magistral trilogia "Os
caminhos da Liberdade". Ele e Simone eram apenas um casal que viveu um
amor de meio século sem contudo jamais passar um papel matrimonial em cartório.Nem
sequer moravam na mesma casa. Mas eram de uma atividade impressionante.
Seguidos por uma trupe de ex-alunos, caminharam a Europa inteira com as verbas
restritas a que já na época os professores eram sujeitos. O que tinham, era uma
cultura inabalável. Iam da compaixão ao confronto sempre refletidamente.
Mas, naquele tempo, o governo da França não colocava
tropas nas ruas para surrar e até matar professores mal pagos. A não ser em
conflitos de guerra, jamais um professor seria atingido por suas ideias ou
reivindicações. Trabalhavam felizes, e carregavam consigo os alunos
interessados nesta tal liberdade
existencial. Seguiram suas carreiras até que a França foi submetida pelo
nazismo. Sartre foi para um campo de concentração de franceses prisioneiros
donde foi libertado dois anos depois. Hoje não há necessidade de uma guerra
para por em confronto professores e tropas armadas. Estamos chegando no fundo
do poço, sem cordas para nos reerguer. Os alunos perderam o respeito pelas
escolas, os pais parem nas sarjetas e soltam-nos sós nas ruas para estimular
buscas de novas "sensações".
Um comentário:
gostei muito Ivone, só você para colocar fatos interessante e desconhecidos por muitos, até os anos setenta os professores ainda eram respeitados, infelizmente para o governo não é interessante a população pensar, então tornou-se um circulo viciosos, professores com pouca formação, salários baixos em consequência alunos mal formados. Teresa Rodrigues
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