sábado, 18 de agosto de 2012

SOU DONA DA MINHA ALMA

Mesmo sem ter a genialidade dela, tomo o melhor de Virginia Woolf para lembrar que a autonomia de pensamento é talvez a maior jóia que foi concedida à espécie humana. No tempo da grande escritora, o mundo passara pela revolução industrial, colocara as mulheres no mercado de trabalho, no entanto, em plena crise de 1929 e, uma década antes da Segunda Guerra Mundial, as mulheres que escreviam eram poucas. São muitas as mulheres que trabalham, mas poucas as que tem espaço na linha de produção intelectual, pois a sociedade continua oferecendo aos homens o melhor lugar na gestão intelectual, relegando às fêmeas o papel de tarefeiras, obedientes às normas e capacitadas a se desdobrar nos vários papeis que cumprem: o de matrizeiras de nova mão de obra para o futuro, de funcionárias dedicadas, de lavadeiras e cozinheiras competentes nas tarefas do lar.

Há muito tempo rompi com essa roda viva. Para ser dona da minha alma como dizia Virginia, fui aos poucos abrindo mão de uma série de papéis femininos e tive que ajudar a criar um novo homem, tão capaz quanto eu de praticar tarefas da vidinha do dia-a- dia. Não sem reprovas da família e de pessoas conhecidas, mas com a tranqüilidade que a vida intelectual necessita. E então, como tantas outras mulheres em busca de novos espaços, passei a fazer parte de uma camada feminina que até hoje é vista com olhos intimidadores por parte dos outros. Quer saber? Se sou dona da minha alma não devo nada a ninguém e vivo respondendo às demandas da vida com a minha visão de mundo, e não com a visão que tentam implantar em mim as variadas mídias. Respondo pelos meus critérios pessoais. Não há auto-ajuda, nem religião, nem sectarismo político a reger meus atos. Mas que os outros tentam, lá isso tentam mesmo, muito embora eu não lhes dê ouvidos.

Agora, estamos em plena campanha eleitoral (no tempo de Virginia ela era apenas sufragista, ou seja, lutava pelo voto feminino), busco vislumbrar uma saída para as crises que vivemos. No plano nacional, por outro lado, julga-se o processo do mensalão. Será alguém punido pelo que fez? No Brasil o povo já duvida de tudo e até mesmo se aliena. Mas as coisas este ano não tem visibilidade apenas por um processo ou uma época eleitoral. Aconteceu que, por caprichos do céu, a safra de milho e a da soja foi espetacular. Enquanto isso, em terras do Tio Sam, a seca fez o milho secar nos campos e a soja não vazou com tanta fluidez. Então, como comerão seus sucrilhos matinais os arrogantes vizinhos do norte? Será que terão capacidade de escrever seus poemas sobre o chão de terra estorricada? E o porquinho do bacon do breakfast, que comerá ele se as rações escasseiam? Ora, abram-se as caixas, peguem dinheiro e comprem os excedentes do Brasil.

Em nossa terra também existem crises. A nossa repousa sobre o tripé da Droga, da Corrupção e da Alienação Social. Então, agora é a hora de quebrar as pernas deste nefasto suporte do sofrimento da população. Estou conclamando você, meu leitor. Pense nas formas de trocar o nosso milho pela boa educação das crianças. É possível sim. Seja você também dono ou dona de sua alma. Quando quiserem cooptar seu voto, peça a definição política do seu candidato. E depois, mesmo sabendo que dias difíceis sempre virão, pelo menos durma em paz.

                                                  Virginia Woolf      1882-1941

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso mesmo..."dormir em paz"... Não numa "paz podre" e vazia...Mas sim num sono repousante, digno e consciente das "grandes possibilidades" em criar um novo e próspero amanhã...Beijos!!! Carlos Saraiva