quinta-feira, 20 de maio de 2010

TROCAS E PRESENTES



As caravelas portuguesas que navegaram no Atlântico, tinham algumas necessidades básicas. A primeira, naturalmente, era encontrar lugares com bastante água potável para continuar viagem. Outra, era plantar em pontos estratégicos, uma planta que dava fibras para o resistente cordame que sustentava as velas dos navios. Desta planta, as mudas foram trazidas do Oriente, e se adaptaram admiravelmente bem no Brasil. Em contrapartida os navegantes levaram daqui para Europa, uma espécie vegetal que lhes tornaria a vida mais saborosa. Foi assim que ganhamos de presente a maconha e demos em troca o tabaco aos europeus.
O efeito da canabis era já conhecido no Próximo Oriente. Dela retiravam uma resina à qual davam o nome de haxixe, e alegavam que o haxixe tornava os guerreiros mais valentes. Esses guerreiros infiéis receberam por isso o nome de haxixinos, donde temos o aportuguesado termo assassinos. Mas aqui no Brasil, o uso da erva não chegou tão longe. Quando muito, nos tempos coloniais, os escravos faziam um cigarrinho para pitar à noite na senzala e, quem sabe, sonhar com sua liberdade perdida.
Na metade do século XX, fumar maconha era coisa de batedor de carteira e, nem de longe alguém pensaria que, em um quarto de século ela estaria no topo das experiências juvenis. Conta a lenda que os Beatles fumaram-na dentro do castelo de Windsor quando foram condecorados pela rainha. E, no famoso festival de Woodstock, o que mais se via era gente curtindo seu barato na imensidão do campo norte-americano. Dali para frente, as aventuras começaram a se tornar mais perigosas. Outras drogas mais pesadas foram sendo consumidas e o problema da dependência se tornou uma questão de saúde pública.
Assim, estamos no lucro. Não se descobriu um único uso farmacológico para o tabaco, mas a erva da maconha, em contrapartida, vem sendo estudada e mesmo utilizada com finalidades terapêuticas. No entanto, no Brasil isso não acontece, pois as barreiras legais até permitem pesquisa, mas ainda não autorizam o uso de medicação com esse princípio ativo. O Dr. Carlini, por exemplo, é um dos estudiosos em pauta. Com ele estiveram José Rosemberg, José Elias Murad entre tantos, mas infelizmente aqui a lei corre em velocidade menor que a ciência. Assim, ficam sem esse possível tratamento, os portadores de esclerose múltipla, entre outros.
As drogas tem que ser pensadas, e não satanizadas. Avoco o milagre da experiência dos ancestrais. Os índios usavam curare para matar. Mais tarde, os pesquisadores descobriram o fantástico uso dos curarizantes para promover relaxamento muscular e facilitar, por ex., a intubação traqueal em pacientes necessitados. Foi um sucesso, que devemos à cultura tupiniquim.
Ivone Marques Dias

Nenhum comentário: