quarta-feira, 27 de março de 2013

UM POUCO MAIS DE FRANCISCO


Falamos em nosso artigo passado das razões pelas quais o novo Papa tomou o nome de Francisco. Hoje vou completar lembrando umas passagens da vida deste santo, não por questão de doutrina, e sim por questão de humanidade, uma vez que nem católica sou.  O trajeto de Francisco não foi nem um pouco fácil. Para fazer pregação religiosa ele mandou um grupo de seus companheiros franciscanos, e resultou disso que eles foram para a Germânia onde ninguém entendia sua língua, portanto, foram expulsos da região a pedras e pauladas. Foi um desacerto, mas o mais doido foi o do próprio Francisco, que resolveu atravessar o Mediterrâneo e provar ao Sultão que o Deus de Francisco era o único correto. Para tanto, propôs-se a caminhar sobre carvão em brasa (ordália); o sultão árabe depreendeu daí que ele era um pirado e mandou embarcá-lo de volta para a Itália.

Francisco tinha verdadeira aversão ao dinheiro. Um dia descobriu que um irmão da ordem possuía algumas moedas. Jogou as tais moedas num monte de lixo e fez o monge recolhe-las com a boca, a fim de entregá-las aos pobres. Entendia ele que bastava o pão de cada dia, a quem se propôs a viver na pobreza. Além disso, insistia em atender os pobres e os leprosos, cujas chagas lavava com carinho. Com o tempo, o povo da cidade foi percebendo a lógica do modo de viver franciscano, e então, acorriam a ele muitos aflitos, buscando consolo às aflições. De certa feita, chegou uma senhora cuja filha morrera ao dar à luz uma criança, e agora a criança ia também morrer de fome. Esta senhora segurou nas vestes toscas de Francisco, e rezou com tanta devoção que, de repente, ela própria começou a jorrar leite dos seios. Hoje sabemos que tratou-se de uma galactorréia por indução hormonal provocada por estado psíquico, mas para a época, fora um milagre. Francisco possuía um auto-domínio fabuloso. Assim, fez cauterizar uma ferida em seu próprio rosto sem recorrer a uma única erva narcótica. Depois disso, teria recebido as cinco chagas de Cristo (estigmatas). Então adormeceu, e ao despertar, confessou a um colega que sonhara ser uma galinha cujos pintinhos  fugiam debaixo das suas asas. Ele estava certo. A Ordem se desintegrava. Havia os que não aceitavam a pobreza total e queriam juntar provisões. E Francisco morreu aos 44 anos com sua Ordem despedaçada pela ganância, que ele tanto repudiava. Então, pegaram seu corpo, sepultaram em Assis e colocaram sobre o túmulo, uma grande cruz de ouro.

Gostou da História? Li todos os cronistas da época, inclusive os que conviveram com ele. Passo a todos um chiste do destino, quando pastores de outros credos alisam os cabelos e tiram as sobrancelhas para ficarem mais metrossexuais.

sábado, 23 de março de 2013

FRANCISCO


O novo papa Jorge assumiu o nome de "Francisco" e, como não poderia deixar de ser, existe uma intencionalidade na escolha de seu nome pontifical. Ele, oriundo da Ordem Jesuítica, de Santo Inácio de Loyola e das linhagens de catequistas, tomou para si o nome de Francisco, o fundador de  uma Ordem Monástica para a qual a Pobreza era o ideal de estilo de vida.
O Francisco original nasceu por volta de 1181 - século XII- e foi criado como os burgueses de sua época, em Assis. Era um fanfarrão, freqüentador de botequins e levava a vida típica de um jovem, em altas farras com seus amigos, nas tavernas, entre mulheres e vinho. Na idade apropriada, seu pai armou-lhe e mandou-o para as guerras da Apúlia, no sul da Itália. Lá, o jovem Francisco pegou uma dessas febres maláricas e teve de retornar a Assis. Então, sua mãe, que era uma doce francesa da Provença, dedicou-se ao seu tratamento, que variou de alternância entre estados sóbrios e estados de altos delírios febris.
Com o passar do tempo, os plasmódios foram se acomodando ao seu organismo e Francisco entrou em franca convalescença. Foi nesta fase que ele se deu conta da diferença que havia entre os ricos burgueses e os pobres que trabalhavam insanamente para eles, inclusive para seu pai, que era um processador e requintador de tecidos vindos do norte da Europa. Francisco revoltou-se por aquela pobre gente. Abriu as janelas dos depósitos e jogou por elas o tecido pronto estocado para a rua, onde transitavam outros pobres. Seu pai revoltou-se, sua mãe defendeu-o, mas o velho comerciante de tecidos de luxo teve que amargar o enorme prejuízo causado pelo filho.
 As bizarrices do filho estavam só começando. Na missa de domingo, acompanhou os pais à igreja e deu-se conta de que os bancos eram reservados aos ricos, enquanto os pobres amontoavam-se no chão dos fundos para assistir à missa. Viu a riqueza do altar e o rosto macerado de Cristo no crucifixo, então teve outra crise de inconformismo, gritou, e foi levado para o pátio frontal da igreja, onde discutiu, frente aos padres e o populacho, com seu velho pai. Para nada dever ao velho, ficou nu em pelo e depois, embrulhado em uma capa que o bispo lhe deu, saiu da cidade e foi se alojar na Porciúncula, que era uma velha capela em ruínas. Começou piedosamente  a cuidar de leprosos e pobres. Nessa altura, outros jovens reuniram-se a ele e criaram a ordem franciscana, totalmente dedicada aos necessitados. Mas, precisavam de ordem do papa a fim de não serem considerados hereges. Foram a Roma. Como por aquela época estivesse crescendo a heresia cátara, o papa Inocêncio III deu aos Franciscanos seu reconhecimento, para que pregassem a doutrina católica, então corrompida pelas heresias. Assim a ordem recebeu regras e passou a dedicar-se tanto aos pobres e doentes como à pregação.
Penso ser possível entender por essa rápida biografia porque o papa recém eleito tomou o nome de Francisco. As demandas da Igreja atualmente são as mesmas. Ela perde seus adeptos, não cumpre seu papel de amar a Deus e ao Próximo, enquanto a cúria destroçada está repleta de vícios e corrupção. Semana que vem volto ao tema e vamos analisar a profunda humanidade de Francisco, o santo mais universal da igreja, respeitado por católicos, espíritas e até ateus marxistas.
Você ja viu Irmão Sol, Irmã Lua em filme? Belíssimo, é baseado num livro de Nikos Kasantzakis, escritor grego marxista, e o livro chama O Pobre de Deus. Vale a pena.

quarta-feira, 13 de março de 2013

DIREITOS HUMANOS


Está o Brasil retorcendo-se de cólicas pela eleição do Deputado Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos, quando ele, sendo Pastor Evangélico, fez tantas declarações Racistas e Homofóbicas, num país onde a Constituição Federal em seus Princípios Fundamentais tenha fixado o fundamento de " promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". Mais ainda, a Lei Máxima do país afirma que a " punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais", além do que , o "racismo constitui crime inafiançável e imprescritível". Por esse caminho, a eleição do dito Feliciano para tal cargo, parece uma daquelas brincadeiras de mau gosto de bêbado de botequim. Então, como traseiro de bêbado não tem dono, lá vai.
Feliciano, ser racista neste país significa reduzi-lo a pouco, tão grande foi o número de escravos trazidos para cá pela cobiça humana, que o tempo se encarregou de miscigená-los e fazer do Brasil um país racialmente híbrido. Não aceito que atribua a meus filhos a bobagem que a cosmogonia da sua religião fala. Ninguém é descendente de Cam mesmo porque esta história do Noé é pornográfica demais para contar a menores. Devia o petulante deputado ler Caim, do Saramago (ouviu falar?), para saber que uma parte considerável do mundo jamais ouviu o Antigo Testamento, e eu mesma, que já passei por ele muitas vezes por razões profissionais, tenho-o apenas como um documento histórico, uma simples crônica de costumes, uma cosmogonia que não diz respeito senão a uma parcela da população da terra. Tem o mesmo peso da Epopéia de Gilgamesh ou dos antigos manuais cosmogônicos da velha India , ou mesmo a tradição que ficou ,oral ou transcrita , dos maias, incas, astecas e dos nossos múltiplos índios. Por suas manifestações racistas, o senhor merecia ver o sol nascer quadrado. O STF, presidido pelo Joaquim Barbosa, terá que se debruçar sobre seu comportamento racista e nojento, para enfim pagar a dívida que este país tem com a África Negra por seus filhos prisioneiros no Brasil.
Por outro lado, sua homofobia me deixa perplexa. Do que tem tanto medo o moço Feliciano? Tenho muitos amigos(as) homossexuais e nunca fui ultrajada por nenhum deles. Sempre considerei sexualidade como coisa de foro íntimo e o medroso Feliciano vem querer ser mais popular que o Tiririca? Poupe-me. Nem Jesus, que é o vosso ídolo máximo  alijou prostitutas, homossexuais, os diferentes. Não seja o moço a fazê-lo, é muito feio passar por cima da sua Realeza Celeste.
Não idolatro a Bíblia, nem no Antigo nem no Novo Testamento. Literariamente até gosto de trechos de Matheus, mas fico por aí. Professo o Zen-Budismo que busca a paz e a tolerância. Assim criei os meus, muito embora eu saiba que existe muito mais coisa entre o céu e a terra do que supõe minha vã sabedoria. Meus irmãos Negros, Homossexuais, Diferenciados em geral, são bem-vindos ao meu lar, tem lugar à minha mesa, dialogam entre si e tem um respeito mútuo que deveria lhe servir de exemplo. Mas, ao que parece, a parte mais sábia da nação há de lhe calar a boca, antes que vire uma estátua de sal. Tome tento, Feliciano. Guarde os preconceitos para si.

quinta-feira, 7 de março de 2013

 Esse doce animalzinho foi educado para ser um exemplo para todos. Mas ele quer mesmo é ser o Tio Patinhas.

A FÁBULA DO BOM MENINO


Era uma vez certo garoto educado para ser prodígio. Ele devia ser bom em tudo. Sensível, religioso, administrador, desapegado, criativo, produtor de livros e, perfeito que era (bonitinho também), ser reconhecido pelos governantes e se tornar secretário da da Educação. E assim foi. Mas, que energia tinha esse garoto. Menino entre as raposas velhas, ao fim do expediente recolhia-se ao apartamento e dedicava-se às letras, bons exemplos aos pais, aos professores, pensamentos superiores, enfim, "fabuloso". Certa vez foi convidado para dar a aula inaugural de uma faculdade nova que abria as portas na zona leste da metrópole maior do hemisfério sul, faculdade esta que trazia o nome de um gênio da educação mundial. No entanto, na data marcada, o bom menino não apareceu. Entre ahs e ohs da platéia, substituiu-o o diretor da nova escola e fez o discurso de praxe dessas ocasiões. Não disse aos alunos que sabia o real motivo da ausência do convidado, mas algo explosivo estava, ou no ar, ou debaixo do solo onde se afirmava ter havido outrora um lixão.
Como simples narradora dessa fábula às crianças desta região, eu me limito a dizer que a situação toda fazia a escola parecer cagada de arara. Os orgãos competentes garantiram que a caca não viria de baixo, mas quis o destino que viesse de cima. Então, como foi? Pois bem, uma das mais consagradas revistas semanais (Veja), publicou na véspera a real história do piedoso menino. Secundando uma alegre foto do então já homem, acompanhado de seu amigo íntimo numa praia da França onde se banhavam ao sol, a reportagem trazia a denuncia feita ao Ministério Público pelo seu agora ex-amigo.
Conta o ex-amigo das muitas jornadas internacionais que, fora mandado ao Secretário da Educação por um empresário de ensino que pretendia vender seu produto educacional à rede de escolas do Estado. Negocião. O rapaz chegou lá e foi deveras apreciado pelo Secretário, que num estalar de dedos fez dele seu companheiro de trabalho e deu-lhe um status de Assessor de Gabinete. Ora, o rapaz era de principio funcionário da tal empresa, mas essa ficou esquecida entre outros grandes negócios "educacionais" do Secretário da Educação, entre esses, um negócio da China que se dispunha a vender antenas parabólicas para 5000 escolas.
 Quando as comissões financeiras particulares do Secretário chegavam em grandes volumes ao apartamento do bom menino, ele que dava ao dinheiro o codinome de "Vanderlei", espalhava-se no closet em meio às notas e banhava-se nelas como se fosse a piscina do tio Patinhas.Fizesse o que quisesse com o dinheiro, se esse fosse seu, e não da corrupção. Mas o bom menino conseguia ainda prodígios. Com uma comissão de ghost writers, lançou mais livros que o Paulo Coelho. 64 ao todo, para lustrar sua biografia e seu ego, nem um pouco modestos. Para quem faz carreira das letras, imagine o que foi e quantos anos levaram os bordados lingüísticos de Guimarães Rosa, talvez o maior escritor brasileiro. E o que diria Machado de Assis com uma vida dedicada à literatura? E para os que produzem ciência que levam anos para produzir um trabalho de 100 páginas? Isso me endoidece pois pertenço ao último grupo.O bom menino admitiu: "Eu estou acabado". Antes assim. Antes tarde do que nunca, e sempre sem esquecer: De bons amigos o Inferno está cheio.
E, de qualquer forma, essa intimidade de closet não nos parece um tanto intimidade demais?