terça-feira, 30 de outubro de 2012

O HOMEM NU

Um livro de Fernando Sabino com o nome acima, foi levado às telas com o excelente Claudio Marzo como protagonista. A trama coloca o artista em dificuldades quando, ao pegar o jornal da manhã em seu apartamento, a porta bate atrás de si, deixando-o exposto como veio ao mundo. A partir daí, o pobre homem passa pelas mais bizarras aventuras. É uma engrenagem de imaginação fabulosa, mas resta deste mote artístico uma realidade avassaladora: “Deus fez os homens nus; os homens criaram a vergonha”. É claro que esse dito popular se aplica à civilização judaico-cristã e a povos outros do Oriente, e talvez o grande mote tenha se originado da real necessidade que temos de nós vestir para proteger o corpo contra o frio, o sol e outros perigos mais.

De qualquer forma, essa população super-sexualizada dos dias de hoje, numa cara de pau que dá engulhos, não suporta ver ou conviver numa cidade mediana onde não haja praia, com homens de sungas, cuecas; tampouco, não concebe a liberdade de ver uma encalorada senhora de soutien se abanando por aí. Tudo falso pudor. Não é mistério que nos banheiros masculinos os homens evitam olhar o companheiro de mictório, afinal isso poderia sugerir uma comparação com o tamanho dos seus “passarinhos”. Entre si, no entanto, arrotam e emitem flatos com enormes gargalhadas. As mulheres são diferentes. Freud disse que elas invejavam os homens pois não podiam urinar de pé, tamanha a falta do membro masculino. Freud sabia bem pouco de história pelo modo de concluir. Na época dos vestidões com arames e outros tecidos por baixo, como ele pensa que elas faziam pipi? No Louvre, por exemplo, paravam num canto da escadaria de mármore e deixavam vir perna abaixo seus fluidos urinários, para depois então seguir seu caminho. Inveja? Para que?

Semana passada, um senhor foi ao banco nesta augusta cidade colonial, e eis que foi barrado pela porta eletrônica. Colocou tudo o que tinha na caixa, mas a porta insistia em barrar-lhe a passagem. Então ele não se fez de rogado. Tirou a camisa e baixou a calça. Realmente não havia nada para que não pudesse entrar no banco.

Como em seguida estivéssemos preocupados em espantar o Serra a vassouradas de São Paulo, ficamos mais focados na eleição da cidade vizinha. Tendo nosso candidato vencido o pleito, voltei a lembrar-me da patética foto do homem de cuecas na porta do banco e, aqui estou para hipotecar a ele minha solidariedade.

Lá pelo ano 2000, fui a meu banco comprar dólares pois estava de partida para os EUA. Meu banco é ótimo, resolvo quase tudo da vida com minha maravilhosa gerente, mas naquele tempo não era assim. Eu estava acompanhada de meu marido e comportadamente coloquei chaves, celular, canetas etc na caixinha da entrada. Mas a porta giratória barrou-me também. O segurança, muito sádico e grosso mandou-me sair da porta e revistar meus pertences. Nada havia, ele estava zoando com minha cara. Tentei novamente e a porta tornou a bloquear. Então não tive dúvidas. Joguei a bolsa ao chão, tirei a blusa e mostrei ao fiel guardião do dinheiro que eu tinha apenas um lindo soutien de renda. O homem botou as mãos no rosto. Um outro segurança quis tirar-me de lá, mas meu marido disse: Não. Ela fica. E eu completei que só sairia da porta quando o gerente viesse me buscar. A essa altura, havia uma rebelião tanto dentro quanto fora do banco. As pessoas gritavam dizendo que se sentiam humilhadas como se fossem ladras, e então o sub gerente veio. Peguei as roupas e entrei no banco. Olhei o Sub e perguntei: Onde é que se compra dólares nesta M...? E ele mansinho me indicou o caixa. No dia seguinte, o gerente ligou para minha casa. Alegou motivos de segurança, tentou defender os cães de guarda da porta e pediu mil desculpas. Enquanto ele falava comigo, acontecia o improvável: Os ladrões entraram na outra agência pela porta dos fundos e fizeram a festa da semana.Conclusão: Seguranças e lingerie bonita são dois elementos que não se combinam.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E AGORA JOSÉ ?

José, magro moço com perfil incendiário, ia às passeatas de universitários contra a ditadura, subia no teto dos carros e proferia discursos para animar a nós, estudantes irados contra a ordem constitucional conspurcada no Brasil. Eu lembro bem, José, eu estava lá manifestando meu todo e qualquer repudio à ditadura. Sei bem o que significa isso, o domínio de um grupo sobre a massa popular, sem deixar aos pacatos cidadãos brasileiros o direito de eleger seu governo, de ser inocente até que a justiça provasse em contrário. Direito. Estado de direito! Era tudo o que nós queríamos quando aos milhares saiamos às ruas para sermos dissolvidos a força, com a cavalaria vindo bravia contra nós. Pois perdemos essa luta vã. Até as Senhoras de Santana, achando que éramos depravados e contra Deus, fizeram marchas contra nós e nos reduziram a quase pó.

Eu disse a “quase pó” uma vez que vários de nós continuamos reagindo, então agora já fora das Universidades. E você, José, acabou preso. Preso sem lei e sem rei. Prisioneiro de um Estado que queria ter a prerrogativa de decidir sobre todos nós. Enquanto isso, desenvolvia-se uma categoria nova de políticos que, à margem dos embates da legalidade, enriqueceu muito. Assim, depois que os ditadores viram o tamanho da massa falida, eles deram uma de generosos e “reabriram” a democracia, não sem antes decretar a Anistia ampla, total e irrestrita a todos – torturados e torturadores- enfim, ambos os campos da contenda deviam se abraçar como crianças depois de uma briga infantil na sala de casa.

Só, que entre o início e o fim da briga se passaram décadas. Muita gente morreu, até hoje seus corpos não foram encontrados. E ficamos nós, aqui, qual mães da Praça de Mayo a chorar nossos mortos sem sepultura. Ai, Deus! Será que chove sobre eles? Quando cai uma tempestade elétrica, encolho-me miúda e temerosa pensando nos companheiros debaixo das águas torrenciais, com frio, sem quem lhes possa dar uma flor sequer.

E você, José? Um grande líder que deixava de nos animar para a luta, agora encaixotado numa prisão qualquer... Não. Isso não podia ser. Por isso, alguns de nós montamos o audacioso plano de seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos e permutar sua liberdade pela liberdade de quinze prisioneiros, o primeiro dos quais, você, José. Desta forma, partiu para Cuba e lá era um preguiçoso, não trabalhava nos mutirões das casas populares, enfim, mostrou seu lado aproveitador e vagabundo. Sim, sentia que viera ao mundo para as grandes chefias.

Por volta de um mês de sua libertação, morreu na tortura um dos que lhe ajudaram a libertar. Quer refrescar a lembrança? Era operário, chamava-se Virgílio Gomes da Silva. Eu sei pois também estava lá, sofrendo nas mãos dos torturadores e vendo os companheiros cheios de machucaduras infernais. E depois você voltou ao Brasil. Fez plástica para não ser reconhecido, encastelou-se e deixou que outros morressem por você. Anos depois, voltou a ordem institucional. E José acoplou-se aos líderes para consubstanciar os planos de uma ditadura de esquerda. Pode? Mas alguém denunciou, e a Suprema Corte, que antes pudera lhe festejar o retorno, compreendeu seus nefastos propósitos. Veredicto: Condenado, levando consigo uma caterva de podres diabos. E agora, José? Eu continuo a lutar contra qualquer ditadura. E você?

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

RESSACA

Esta semana, pós eleições, e ainda durante o julgamento do Mensalão, quero creditar aqui todo o meu nojo pelos jogos políticos que tenho observado, tanto no âmbito nacional como no regional. Deixo de princípio muito claro que não estou pondo em questão Partidos Políticos, mas pessoas e atitudes.

Vou começar pela questão das eleições municipais. Mogi das Cruzes deu seu voto ao atual prefeito, mas é preciso que fique claro: ele se reelegeu com 61% dos votos, e não com 80%, como se propagou. Isso significa que o atual Prefeito não é unanimidade. Outros candidatos também foram votados, e a soma de seus votos é significativa para entendermos que daqui a quatro anos, novas lideranças aparecerão e, creiam os leitores, será difícil ao atual prefeito manter a curva ascendente que construiu a partir da continuidade dos projetos de Junji Abe.

Um dado notável nesta eleição, foi o número de abstenções e anulações de votos. Não lhes parece isso uma modalidade de protesto contra o Sistema em crise? 57.000 pessoas negaram-se a ir às urnas ou anularam seus votos. Isso significa que quase um quinto dos eleitores estão de “saco cheio” dessas campanhas inglórias e do caciquismo que ainda impera em nosso meio.

Os votos de vereadores confirmam essa maldita profissionalização da política. Se o Brasil fizesse uma reforma séria no campo eleitoral, tiraria dos vereadores também o direito à reeleição. Além disso, seu trabalho devia ser voluntário, não assalariado, forçando cada candidato a ter uma profissão compatível com a vida que leva. Entre os eleitos, o mais votado foi o filho de Junji Abe. Fiquei triste, pois não me ocorreu que um candidato possa embarcar no sucesso do seu pai. Essa ocorrência levou-me à clara lembrança de que, os meus filhos seguiram a minha profissão, mas isso implicou em meu desligamento do sistema de vestibulares, bem como não posso fazer parte de qualquer defesa de tese ou concurso público a que se submetam.

A segunda mais votada foi Karina Perillo, conhecida como Karina do Adote Já, que, uma vez eleita, teve o descaramento de dizer que vai exercer seu mandato para os animais. Por mais gratos que os animais lhes sejam, é bom não esquecer que o problema dos animais é definido nas áreas estaduais e federais, tendo o município um setor de zoonoses para cuidar cientificamente do bem e do mal que a proliferação das diversas espécies significam à sociedade. Depois desta inteligência rara, vem os demais: a maioria cartas marcadas num jogo nefasto de poder, ou então, para ser menos corrosiva, figuras que buscam luzes pelo corte superior da pirâmide da casa do legislativo.

Assim, alguns bons candidatos ficaram de fora enquanto certos abutres conseguiram se eleger.

Há mais uma coisa que quero dizer sobre o escaldante dia das eleições: Quem deu a esses senhores o direito de emporcalhar a cidade da forma que o fizeram? Pessoas caiam no meio dos santinhos, os pés queimavam no papel fervente. E a limpeza? Cabe ao poder público, ou seja, eu, que não joguei um único papel no chão, estou pagando esta limpeza com o dinheiro que pago dos impostos.

Mas tudo tem sua hora e sua vez. O Supremo Tribunal Federal por maioria considerou culpados os réus do Mensalão. Isso é bom. Quando a banda podre dos partidos vai em cana, é possível suspirar um ar mais limpo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ELEIÇÕES? VALHA-NOS DEUS



Irei votar só porque sou obrigada. Penso que o voto compulsório é absolutamente contra a liberdade pessoal de se abster, pelo menos nesse sistema que aí está. Não gosto de participar desta “festa da democracia” mesmo porque nada vejo de festivo num ato que acaba dando no que deu o processo do famoso mensalão. Ontem, ao fim da tarde, eu que acompanhei todas as sessões do Supremo Tribunal Federal, vi um Deputado Federal da cidade, que teve por aqui mais de dez mil votos, ser condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Me parece desalentador que essa condenação “unânime”, diga-se de passagem, seja também uma condenação aos dez mil mogianos que votaram no cidadão. Será que não sabiam antes, pelo histórico do moço, que ele já devia estar na cadeia a muito tempo? Assim, não vejo que eleições possam ser uma festa. Ao contrário, são momentos que deveriam exigir muito equilíbrio para evitar vergonhas como essa que passamos nos últimos dias.

Gosto da Dilma; isso não me faz gostar de seu antecessor no Planalto. Como podem perceber, não é uma questão de partidos políticos. É mais uma questão de pessoas. Alguns políticos de determinadas agremiações são corruptos; outros não. Então, não me sinto à vontade para falar de partidos, pois, o povo não conhece a cartilha programática dos partidos e, menos ainda, quais as funções dos eleitos.

Daí, termos outra vergonha. Viram há duas semanas o encarte que o Mogi News publicou sobre as ações dos vereadores da cidade? Foi o mapa da inépcia, do uso do cargo público para lustrar o ego de algumas pessoas, enfim, de aproveitável, quase nada.

Dentro deste sistema compulsório de eleições, todos deveriam saber que os eleitos não passam de pessoas – tipo funcionários – que são serviçais da comunidade. Assim, o trabalho tem que ter um retorno condizente com o salário que recebem. Então, o Prefeito é o gerente de execução de obras e os vereadores são os proponentes e debatedores de tais obras. Eles recebem salários vindos de nossos impostos, e a cidade recebe verbas vindas dos recolhimentos estaduais e federais. Daí, é fácil concluir que compete aos dirigentes municipais apenas propor e debater as prioridades do município. Não é isso que temos visto. A cidade aumentou muito e, com ela, suas carências.Assim, estamos agora num período de exame de consciência.

Da lista de candidatos a vereador, vi uns poucos nomes respeitáveis, cuja história conheço bem. Um deles será agraciado com os votos da minha família e amigos, o que não nos autoriza a pedir absolutamente nada em troca. Basta-nos que cumpra sua função, se eleito.

Agora um aparte. Porque sou contra o voto obrigatório? Sou contra pois a forma de eleições não expressa a necessidade popular. Acredito que as comunidades, os bairros, as circunscrições deviam se reunir e debater seus problemas e suas urgências. Depois disso, tanto quanto possível, deveriam se auto-gerir. Isto é, sou socialista-autonomista. Assim como detesto ditaduras de minorias, detesto também ditaduras de maiorias burras. E, como a crise econômica mundial está pintando por aí, tenho uma intuição solene de que o Sistema estará na berlinda mais cedo do que se pensa. Vai ser bom plantar comida no fundo do quintal. E também aprender qual é o espírito que norteia a Defesa Civil.

QUANDO SERÁ QUE O BRASIL VAI LIVRAR-SE DAS AVES DE RAPINA QUE INFESTAM A POLÍTICA NACIONAL? QUANDO O ESTADO BRASILEIRO VAI PARAR DE ROUBAR-ME COMO CIDADÃ? PARA SER VÍTIMA, NÃO PRECISO VOTAR.