sexta-feira, 29 de junho de 2012

As Mulheres de Jorge Amado (II)

As mulheres de Jorge Amado (II)



Semana Passada estávamos no exílio do casal Jorge e Zélia num palácio da Tchecoslováquia, e Zélia encontrava-se em vias de dar a luz. Como o palácio ficava longe do hospital, ela deixou o filho mais velho com amigos e o casal desceu para a cidade onde permaneceriam, no apartamento de Pablo Neruda, até o momento de internação. Zélia estava enorme, inchada, quando bateu à porta do apartamento um enviado do Partido Comunista, que ordenou a Jorge que viajasse imediatamente para a Alemanha a fim de fazer companhia a Anita Leocádia Prestes, menina ainda, filha de Luis Carlos Prestes com Olga Benário, esta última morta num campo de concentração nazista depois de ter sido deportada por Getúlio Vargas. A história de Anita era comovente, mas Jorge alegou que sua esposa ia dar à luz em algumas horas, e não podia deixá-la sozinha. O mensageiro, mais enfático, respondeu: eu sei. Mas ela pode ir sozinha ao hospital.O Partido está acima dos indivíduos! E Jorge embarcou contragosto, deixando Zélia só. Na Alemanha sua cabeça estava em Praga. Ele esperou por Anita até que um membro do Partido contou-lhe que a menina não viria mais. Jorge correu de volta para Praga; para seu gaudio, Zélia ainda não entrara em trabalho de parto e, no dia seguinte ele pode ver o nascimento de sua filha a qual deu o nome de Paloma, remetendo ao símbolo da paz entre as nações, tal como sugeria a delicada pomba de Pablo Picasso.

Até 1952 o casal e seus dois filhos permaneceram no exílio. Viajavam por toda a Europa a fim de participar de eventos sobre a PAZ. Zélia ia em companhia de Jorge, mas nem sempre podia estar com ele. Na Polônia, por ex., ele foi para o local da conferência enquanto ela ficou alojada num palácio expropriado de algum nobre e destinado à recuperação de gente que sobreviveu aos campos de concentração. Ali, Zélia viu os desastres que a guerra provocou na natureza. Por desequilíbrio ecológico, os percevejos proliferaram em demasia e chegaram a nutrir-se do sangue dela e de seu filho João, que lhes acompanhava. Depois dessa e tantas outras experiências no exílio, em 1952, com Paloma ainda pequena, o casal e os filhos voltaram para o Brasil, instalando-se no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, mesmo tendo escrito uma obra celebrando Luis Carlos Prestes, Jorge rompeu com a militância no Partido e passou a viver de suas obras. O mundo mudara e o Brasil também. Até então sua literatura fora politicamente engajada, com Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia, Terras do Sem Fim. Agora, ele podia jogar-se de peito aberto à Bahia. Vieram os tempos da Bossa Nova e da malemolência. Então, Jorge comprou um terreno no Rio Vermelho, em Salvador, e ali construiu sua casa, onde escreveu seus romances mais lúdicos e recebeu intelectuais do mundo inteiro. A vida virou uma celebração para o casal e seus filhos. Então, ele estava livre para Gabriela, Tieta, Tereza Batista, Dona Flor e tantas outras que lhe vinham à imaginação. Sobre elas, meus leitores, aguardem a próxima semana. (continua)







As Mulheres de Jorge Amado (I)

AS MULHERES DE JORGE AMADO (1)




São muitas as mulheres que Jorge Amado criou em suas obras: Gabriela, Dona Flor, Tieta e outras. Todas são altivas e cativantes, mas ele reserva um espaço para as velhas chatas, as beatas e fuxiqueiras. Os homens também são antológicos: Ramiro, Nacib, o falecido marido de Flor, o seminarista filho de Perpétua, e até o Quincas Berro D’Agua. É natural que Jorge Amado seja conhecido no mundo inteiro por suas histórias ao mesmo tempo picantes, violentas, ou cheias de críticas sociais. Então, podemos dizer que parte do que se conhece do Brasil lá no estrangeiro, aconteceu pelas traduções que se fez dos seus livros, e a lente com que este país é visto, reflete o que Jorge colocou em suas principais obras. No entanto, o escritor, para além da ficção, teve também as mulheres de sua vida. A começar pela mãe, mulher forte e poderosa no seio da família, ele teve uma primeira mulher, depois, foi viver com Zélia Gatai.

Desde sempre o escritor baiano se identificou com os comunistas. Fez parte do Partido Comunista, participou da constituinte pós Getúlio Vargas, fez passar a lei da liberdade religiosa (não entende História da Religião no Brasil quem não leu sua “Tenda dos Milagres”), mas, quando o Partido Comunista foi proibido no Brasil, Jorge partiu para a Europa onde ficou vários anos. O que temos de mais fidedigno da biografia do autor, nos chegou, no entanto, através dos escritos de sua segunda e eterna esposa, Zélia Gatai. Dela, podemos dizer que é uma das maiores memorialistas brasileiras, e por ela, ficamos sabendo das manias de Jorge, de seus amigos, de sua vida no Brasil e no Exterior.

Zélia lançou um primeiro livro, “Anarquistas,Graças a Deus”, para celebrar a vida de seus pais e a educação que recebera quando garota. A partir de então, ela escreveu um expressivo número de obras onde narra períodos da vida do casal no Exterior e no Brasil. Aí sim, ela expõe Jorge Amado através de uma lupa afetiva única, e, no mesmo pacote, conta das pessoas com quem o casal se relacionou, das alegrias e tristezas, das decepções no trajeto ideológico e assim por diante.

Fugidos do Brasil, fizeram primeiro ponto de parada em Paris. Lá, Zélia arrumou uma babá para seu filho, uma francesa que entendia o português uma vez que tivera um romance com um comunista brasileiro também foragido. Esta moça engravidara e o Partido Comunista não só separou o casal como fez a mãe mandar a criança para longe, por restrições morais impostas pelo Partido. A consciência desse fato invasivo da individualidade teria sido um dos primeiros a provocar mal estar no casal Zélia-Jorge.

Permaneceram na França mais um período, porém a França do Pós Guerra expulsou os estrangeiros comunistas, e então eles se mudaram para a Tchecoslováquia, onde ficaram alojados num palácio destinado a intelectuais. Jorge a essa altura havia recebido o Prêmio Stalin da Paz. O palácio ficou sendo o novo lar da família Amado. Zélia engravidou e, teve Paloma neste local.(Continua)

terça-feira, 12 de junho de 2012

MEDEIA, A VINGADORA

SERÁ QUE EXISTE UMA MEDEIA CONTEMPORÂNEA?

Creio que sim. Medéia, na mitologia grega é a feiticeira que ajuda jasão a recuperar o velo de ouro, na epopéia dos Argonautas. Depois, foge com jasão e o velo precioso mas leva o irmão de refém. Na fuga, para retardar o pai que quase lhes alcança, vai jogando pedaços do corpo do irmão pelo caminho, e o velho segue para recuperar o filho todo. Mas Medeia não fica por aí. Tomada de paixão doentia por Jasão, quando descobre que ele se apaixonou por outra, manda para a rival uma roupa. A rival veste a roupa e morre queimada pela mesma. E a vingança continua. Medeia mata os dois filhos porque a ela interessa o sofrimento terrível do companheiro traidor.
Ciume doentio geralmente acaba em tragédia. Formidável. Não fossem os mitos não poderiamos entender certos comportamentos , digamos, anti-sociais. Seria lenda se não fosse verdade. Seria cômico se não fosse trágico. Cá entre nós, estamos falando de gente que não joga limpo...
MULHERES QUE MATAM MARIDOS




A Rede Globo volta a apresentar o “remake” de Gabriela, novela baseada na obra de Jorge Amado com o singelo título de “Gabriela, Cravo e Canela”, que retrata a saga dos nordestinos que fogem da seca e a saga dos coronéis cujas terras e bens foram conquistados a tiros e assassinatos. Se a novela de agora tomar os mesmos rumos da que fez sucesso a décadas atrás, ela deverá começar com o assassinato de uma esposa pelo marido ciumento e, depois fará rolar o romance de Nacib e Gabriela dentro do contexto da sociedade do cacau. Jorge Amado não deixava passar em branco um tempo histórico de mutações sociais, de forma que, a cidade liderada pelo patriarca Ramiro Bastos, ao conhecer sua morte condena e leva para a cadeia o coronel que no início da trama torna-se uxoricida, ou seja, o assassino da mulher paga caro por ter matado em nome da honra.

Este tipo de crime, apesar da antecipação de Jorge Amado, teve desfechos de absolvição de réus até poucos anos atrás. Encontrava-se sempre uma forma de culpar a vítima para isentar o réu. Entre os últimos julgamentos rumorosos, na primeira metade dos anos 80 houve nas portas do Forum da Praça João Mendes uma verdadeira batalha entre camelôs e as feministas que esperavam a condenação do cantor Lindomar Castilho pelo assassinato de sua ex-esposa, Eliane de Grammont. Os camelôs queriam a absolvição, então, como o clima estivesse muito tenso, o Forum foi vedado ao grande público para não prejudicar os trabalhos da justiça. Assim, enquanto uma batalha campal se desenrolava na antiga Praça, lá dentro, o júri, não contaminado pela opinião pública, mandou o assassino para a cadeia, onde ficou pelo menos 7 anos vendo o sol nascer quadrado.

Bem mais raro, nem por isso menos grave, é acontecer o contrário. Normalmente, as mulheres traídas saem de casa e muitas vezes, não havendo intercessão da justiça, nem dinheiro recebem para manter a prole que levam consigo.

Então, a morte do senhor Kitano Matsunaga, é o reverso da medalha, trazendo o requinte do brutal método de descarte do cadáver. Elise fez literalmente picadinho de marido. Depois, com infantil inabilidade, jogou os sacos com o corpo do falecido lá para as bandas de Cotia, remetendo essa história terrível ao mito de Medeia que fugiu com Jasão após a conquista do velo de ouro, mas, para retardar a perseguição de seu pai, ia pelo caminho jogando pedaços de seu irmão Absirto, e o pai, seguia recolhendo os pedaços do filho. Mais tarde, Medeia foi traída por Jasão, então matou a rival e os próprios filhos... Mas, Elise ficará por aqui, presa, contida. Seu marido a traía e ela escolheu a vingança. Ela é uma assassina e, o morto, até agora não deu provas de uma conduta familiar razoavelmente boa. Ele traiu, ela matou. Não há atenuantes nem para a moral do moço nem para a vingança cruel da nova Medeia.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

CONTRAMÃO

DURA VIDA DE POLÍTICO




Meus queridos leitores, estou de volta e agradeço aos muitos que reclamaram minha ausência no jornal. Hão de convir comigo que, de vez em quando a máquina cerebral precisa ser azeitada para funcionar melhor, porém, consertei o que precisava e retornei para matar as saudades do jornal e iniciar uma nova fase. Desta vez, inauguro uma coluna de nome Contramão, pois me ocorre muitas vezes que a sociedade segue em fluxo contínuo pela linha certa, até ser atropelada por uma ou mais pessoas que vem em sentido contrário para badernar os rumos corretos em que andamos. É natural que esta coluna tratará do insólito e por vezes do dolorido, mas, quem sabe, ela não irá contribuir para por em causa acontecimentos que nos parecem banais, no entanto são ofensivas e aviltantes e nós, no fluxo da placa de trânsito, estamos tão acostumados a ver que nem reclamamos mais.

Para primeira trombada escolhi a que é mais geral ao país: Vida de Político. Quem, em sã consciência é capaz de assistir noticiários sem se enervar? Respondo: NÒS. E querem saber por que? De tão longa data vemos as pessoas crescerem sem mérito, enriquecerem sem trabalhar, gastarem nosso dinheiro com terras, mansões, vagabundas, viagens sem proveito social, banquetes romanos e outras coisas mais, totalmente fora da lei, e nós, que só fazemos na vida trabalhar, pagar impostos e caminhar nos trilhos da norma social, calamos acompanhando a novela das empreguetes ou a da Maria Chuteira, rindo das contradições como se elas não fossem nossas, como se não fossemos espoliados quando o direito de outrem é desrespeitado na telinha e na vida.

E agora, no cenário da política, vemos tribunos da plebe calarem quando nós os pagamos para falar, e falar muito. Não me admira que o palhaço Tiririca, deputado escória do riso popular, fique sem processo por falta de decoro quando declarou simploriamente que vai concorrer como “puxador de votos”. Cansados de levar trombada de quem vem na contramão da decência, calamos qual cabra recém parida no pasto.

Cabe na cabeça de alguém (que não seja empreguete diarista), que as instituições políticas de Brasília recebam deputados e senadores para ajuntamentos que vão de terça a quinta feira? E que calem quando indagados sobre seus atos quando arguidos por comissões de inquérito da própria assembléia? Neguem ou confirmem, mas falem, pois o único instrumento que o político de Brasília tem é exatamente a voz, para fazer discursos, conchavos, negócios que talvez não possam ser registrados em papel.

Pagos para falar, pagos para defender causas, pagos para argumentar, pagos para defender os incautos, as vítimas da mão de obra escrava...quando sabemos que há políticos escravocratas. E as pessoas riem das empreguetes. No entanto, a maioria delas não tem registro, INSS, férias, horários respeitados, vale transporte e por aí vai.