terça-feira, 24 de abril de 2012

VIVA O BLOG

No Blog não tenho férias. afastei-me temporariamente do jornal mas meu Blog continua no ar. Espero manter constância no que escrevo pois este é meu forum favorito. E sabem mais o que? Devo ao meu pai a arte de ler e escrever. Ele era sábio e lindo; continuou assim até partir.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

26 de abril


Depois de vários anos e mais de 250 matérias escritas na Tribuna Livre, senti necessidade de dar um tempo e excluir tarefas que carecem de data certa e antena ligada. Umas férias, digamos assim.
Não estou me despedindo dos meus leitores, quem sabe apenas dando um até breve, pois preciso arrumar as prateleiras da minha vida. Aos que me conhecem bem, digo que muitas inquietações merecem muitas respostas, e para aquietar a cabeça, só mesmo parando um pouco. Assim, abro mão momentaneamente da coluna como neguei fazer bancas examinadoras a que fui convocada. Só não posso abrir mão de mim mesma. Nem da minha mãe velhinha que tem 93 anos, está completamente lúcida e mal consigo visitá-la. Nem do meu marido e dos meus filhos que também ressentem do meu distanciamento em ocasiões que eu podia caminhar junto a eles.
Escolhi esta data para dar um até breve a todos e agradecer as deferências do Mogi News com sua competente administração, seu conjunto de funcionários maravilhosos, e o meu querido amigo Márcio Siqueira que abriu-me as portas da casa com o carinho que sempre lhe foi peculiar.
Mas não escolhi ao acaso esta data para iniciar minhas férias. Esperei 26 de Abril por ser este o dia em que meu pai, se vivo fosse, estaria completando 101 anos de idade. Ele era um homem simples, sem escolaridade, mas com grande formação autodidata. Foi o homem que me estimulou sempre a progredir em meus estudos, alcançar o ponto mais alto da minha carreira acadêmica e, também, a nunca renunciar ao amor, à honestidade intelectual, aos princípios de moral sólidos e uma ética eficiente.
Agora, tem dez anos que meu pai faleceu. Por vezes, sinto que foram dez dias, tão grande é a presença dele em mim.
Quanto aos rumos do Brasil e do mundo, se estivesse vivo teria as mesmas torções estomacais que eu tenho. Quanta gente morta em guerras inúteis, quanta gente morrendo de fome no meio da fartura. Isso seguramente era demais para ele, um homem que lutou em 1932 pela Constituição do Brasil. Ele não teria coração para ver tanto enxovalhamento da nossa bandeira e dos nossos ideais.
Percebem agora, meus leitores, quais são as prateleiras internas que tenho para arrumar? Como posso sepultar meu filho morto pela ditadura se todos os dias vejo crianças cadavéricas comendo restos de lixo enquanto se gasta fortunas com coisas que seriam absolutamente dispensáveis? Como posso imaginar que vivemos numa democracia se todos os nossos atos são comandados por propagandas sub-liminares terríveis? De-me um tempo, querido leitor. Não estou entre os que oprimem, roubam ou praticam atos lesivos ao próximo. Mas estou, definitivamente no Outono da Existência.

Na vida de cada um existe um ponto em que temos que focar nossos interesses mais imediatos. Meu pai foi exemplar quando fixou esse ponto em sua vida. E nunca faltou com os filhos, com a esposa, com os netos. Ele era doce como um favo de mel recem colhido, e seguiu assim até seu último dia de vida. Eu estava com ele quando nos despedimos um do outro. Ele, muito cristalino, disse: Filha, estou morrendo. E tranquilamente respondi: Está, meu pai, mas não se inquiete: um dia, lá diante a gente se vê. E ele foi em paz, numa linda tarde de por de sol de trombeta, como diria Emília de Rabicó, minha mentora infantil.

terça-feira, 17 de abril de 2012

TEM SAÍDA ?



Imagine você, meu companheiro , que um dia fomos para o agreste pernambucano e lá tivemos que sobreviver. Coca Cola? Sim, isso não falta em lugar algum. Mas, e a comida? Come-se o que há para vender na região. Então, que tal experimentar umas empadinhas de carne, crocantes e saborosas? Vamos lá, a fome é sempre maior que o senso crítico: as empadas, amigo, são mais gostosas que o pão borrachento usado para os sandubas de mortadela. Então, duas Cocas e quatro empadas. Tudo sem saber que, no longo processo de digestão, o seu organismo vai metabolizar e jogar na corrente sanguínea o que está contido nos melados da Coca Cola e nas massas e proteínas das empadas. É isso aí. Podemos continuar nosso caminho, nosso estômago aliviado. E agora, para onde vamos? É tão bom caminhar ao léu... Melhor ainda, depois de dias e dias de caminhada, conhecemos mais um pouco do Brasil e estamos em casa, no conforto do leito e no bem bom da mesa, quando, ligamos a televisão e ela nos mostra o filme da região por onde andamos... Só que a notícia é das mais terríveis: Um homem e suas duas mulheres assassinavam pessoas e, depois, aproveitavam o que não comiam para rechear as deliciosas empadas que vocês comeram. Comovente, não? Vocês também participaram desta insana comunhão, se bem que involuntariamente.
E agora? Há um só banheiro na casa, pouco espaço para vomitar. E vomitar também não ajuda, já está tudo metabolizado... Então, o coração se angustia. Meu Deus, comi carne humana sem saber, acabo sendo a cadeia final deste banquete macabro e nada posso fazer. Ora, deixa pra lá. Sua má experiência não foi a única nesta terra onde nosso maior canibalismo é comer o Corpo de Deus na santa comunhão. Eis o mistério da fé!
Bem, os assassinos já estão presos, sua casa foi incendiada pelo povo enojado. Mas, cuide-se. Pode ser que a experiência se repita, a gente nunca sabe.
Na Alemanha, durante a Segunda Guerra, fuzilaram uma velhinha bondosa que vendia bolinhos aos soldados. E os bolinhos eram feitos de algum incauto que ela atraía, matava, descarnava e aproveitava... Assim contava minha avó.
Quanto a mim, lembro de ter ido visitar uma amiga com bebê recém-nascido no Parque Continental, em São Paulo. Minha amiga Dirce fez um chá para nos oferecer. Disse apenas que a água não andava muito bem então ela fervia duas vezes. Tomamos os nossos goles de chá e voltamos para casa. Dias depois, Dirce telefonou: Sabem por que a água estava estranha? Porque mataram um homem e jogaram o corpo na caixa d’agua do condomínio. Tudo bem, você comeu empada de gente, eu e meu marido tomamos chá de defunto. Fique calmo. Existe sim pecado do lado de baixo do Equador, contrariando o velho Chico Buarque.

terça-feira, 10 de abril de 2012

DELÍRIOS DE FÉ

Ganhou espaço na mídia a louca história do Judas de Itararé que, na encenação da Paixão de Cristo, acabou se enforcando de verdade. Não fosse o elenco descobrir o fato 4 minutos depois, lá se ia uma vida pelo caminho do teatro da fé. 4 minutos não é tempo demais?
Itararé é uma cidade pequena que fica no sul de São Paulo, divisa do Paraná. Morei em Itapeva alguns anos, o suficiente para perceber que a região tem carências enormes, senão de comida, pelo menos de inteligência. Enfim, acho que vão ter mais cuidado com o Judas da peça, pois o susto educa.
O que não dá para entender é o surto delirante de fé espetacular que vivemos no dia de hoje. Digo espetacular, porque as manifestações religiosas das diversas seitas cristãs que temos por aí, tornaram-se escandalosas, lembram a Marília Pêra no teatro interpretando Apareceu a Margarida, vários anos atrás. A diferença está no envolvimento do protagonista (padre, pastor e afins) com a platéia. Gritam eles e a platéia grita junto. Parece torcida de futebol, e coitado de quem mora perto. Esses teatros da fé não tem isolamento acústico e, queira ou não, somos submetidos a ouvir com regularidade o que se passa dentro dos vários templos religiosos.
Moro agora no ponto alto do Mogi Moderno. Quase frente a frente, concorrem para a perda da tranqüilidade do lugar uma mega construção da Assembléia de Deus e outra enorme igreja de Santo Antônio que chega às raias da insanidade de ter no campanário, alto-falantes para que as informações e as músicas juninas cheguem ao ouvido de toda a população.
Sou budista por convicção, e o meu nicho de manifestação exige silêncio. Porém, não sou respeitada, pois a igreja de Santo Antônio vaza o som das missas e cultos especiais direto para as janelas de casa. E o templo da Assembléia, faz exatamente o mesmo, quando os pastores berram ao microfone e os fiéis gritam nos chamados momentos de glorificação. Dia desses, tomei banho, vesti minha camisola (discretíssima aliás) e, como não conseguisse ler ou dormir, peguei um xale, joguei nas costas e fui andando pela calçada, abduzida pelo berreiro, até chegar aos degraus do templo. Do atrium, conferi: é isso mesmo, a Sociedade do Espetáculo se impõe a nós... Dias depois, a semana santa. O povo da vigília no sábado de aleluia fazia a igreja virar um show de gosto duvidoso. Santo Antonio protestaria.
O que peço humildemente a esses delirantes? Contenham-se. Afinal, aqui há gente de muitas religiões diferentes. Manifestem sua fé com mais discrição pois Deus tem bons ouvidos. Se não for pelo bom senso, terá que ser pela via da justiça. Afinal, a Constituição Brasileira dá igualdade de direitos a todos os fiéis, qualquer seja a sua fé.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

GENTE RESSENTIDA

Neste último domingo, li numa coluna deste jornal o artigo de um pressuposto artista plástico, destilando veneno contra a administração pública, intelectuais e doutores e, até mesmo contra alguns de seus colegas de profissão. Um destemperado, pensei. Esse sujeito quer se tornar a metralhadora giratória do município e para isso entrega aos abutres até gente que alguma vez se compadeceu dele. Ele atende por JAM, uma sigla artística que lembra o nome de empresa aérea e tem com as tais empresas, em comum, apenas a fumaça e o descompromisso social... Mas, de la para cá, fiquei matutando sobre os reais objetivos do desclassificado, até mesmo porque sua escrita é desconexa e ele não é claro no que reivindica. Tem um desafeto, isso fica claro, e suas setas voltam-se contra o Secretário da Cultura antes de atingir todos os outros.
Acho que não tenho mais paciência com o tipo encardido de pessoa que JAM é. No entanto, como pertenço à galeria dos atacados pois sou intelectual e doutora, resolvi, pelo menos em meu nome, responder algumas coisas ao milhafre bestão.
Um doutorado e uma carreira acadêmica não se constroem por sorte ou acaso do destino. São necessárias muitas horas de estudo, tempo infinito de raciocínio e maturação, a composição de uma tese consistente e, finalmente, uma defesa voraz do produto final com bancas examinadoras muitas vezes extremamente exigentes. Isso tudo exige do candidato um recolhimento e uma disciplina ardorosa. E quando se tem o diploma de doutor nas mãos, há ainda os que desqualificam esse esforço ou pretendem nem saber do que trata nossa esfera de pensamento científico.
A vida intelectual que começou muito antes do acesso ao doutorado, então passa a ser cobrada com vigor. A partir daí, prestei um concurso público, me tornei orientadora de pós graduação na UFRJ e precisava entregar sistematicamente os relatórios da minha produção científica. Assim, trabalhei 47 anos da minha vida, e, ao me aposentar, dei continuidade às publicações científicas em periódicos especializados ou me entreguei a este exercício de cronista por simples prazer. A vida com os livros me agrada bastante, e isso é tudo.
Sucede que, nos tantos espaços de sociabilidade, conheci muitos artistas plásticos da região, pessoas boas de quem adquiri obras de arte para meu deleite. Tenho muito respeito por todos. Respeito também a turma da música, do teatro e assim por diante. Comungo com todos a necessidade de um centro cultural para onde possam convergir, expor, aprender, etc. Mas não sou artista nem posso aceitar críticas emanadas de um sujeito sem eira nem beira do qual jamais vi obra alguma. Sugiro que aprenda a ter classe e profundidade com Rafael Puertas.