quarta-feira, 6 de agosto de 2008

EM política, QUERO SABER TUDO

QUERO SABER TUDO

É um direito que tenho. Por eles, vou sair de casa e votar numa urna eletrônica; a partir daí, para o bem ou para o mal, eles me representarão. Exatamente por falarem em meu nome, quero saber tudo sobre os candidatos. Em primeiro lugar, a idade, a profissão, a capacidade de escutar o que os outros tem para dizer. Depois, como é sua família, se seus filhos são estimulados a estudar, se lêem, se são alegres e bem resolvidos, se a esposa não é apenas um enfeite ou uma vaquinha de presépio. Afinal, é deste nicho doméstico que eles saem, mais ou menos agressivos, mais ou menos atenciosos, mais ou menos saudáveis da cabeça.
Tenho medo dos políticos. Aprendi com Maquiavel que, em matéria de poder, não importam os meios desde que os fins sejam atingidos. Tenho medo porque, passados tantos séculos depois de Maquiavel, muitos políticos continuam pensando exatamente isso. Não entraram nas esferas da ética, mantiveram-se como aduladores, fazedores de conchavos aos quais nunca temos acesso.
Acordos políticos vão muito além das coligações que assistimos há pouco tempo nas convenções partidárias. Os maiores acordos acontecem na calada da noite, atrás de copos de uísque, com palavras ditas em baixo tom para que ninguém escute. Sempre envolvem questões de dinheiro, de protecionismo, de compadres, de ganhos pessoais. De vez em quando ainda se coloca mulheres no meio dos negócios e há quem registre sordidamente os encontros para futuras chantagens. Enquanto eles andam de carrões, a justiça do país caminha sobre carros de boi ou charretes engalanadas, dependendo do grau do magistrado.
Há sempre um palhaço de plantão. Ele é ótimo pois desvia as atenções do distinto público, o qual, perdido frente a tal parafernália de campanha, é tangido a votar com os dedos, mas sem usar a cabeça.
Tem mulheres que votam em candidatos bonitos; tem outras mulheres que não votam em mulheres porque acham que elas não são capazes de fazer boa política. A inconsistência dos eleitores provoca o desastre na composição dos governos. Por isso preciso saber tudo sobre eles: os políticos e o povo. E este, é um processo muito dolorido. São as dores do parto de uma verdadeira democracia.

PAI

PAI

Nada mais justo do que dedicar estas linhas a você. Sinto tanta saudade da sua terna presença e, no entanto, ainda me surpreendo a querer lhe contar qualquer coisa que me aconteceu de especial. Só que o telefone não funciona mais. Você não se encontra sentado ao lado do aparelho, lendo seu jornal ou o último livro do pedaço; tudo ficou para trás na espiral do tempo, como soe acontecer em todas as famílias. Bem dizia um amigo, “a orfandade é uma merda”.
Sou uma órfã velhinha, quando você partiu eu já tinha 57 anos, nem por isso a tristeza foi menor. Talvez o tempo tenha me dado a real dimensão do que um pai é capaz. E, creia, meu velho, um pai pode tudo porque tem um manancial inesgotável de sentimentos bons. Tirando os degenerados mentais de quem a justiça tem dado conta, os pais são uma instituição que não caiu fora de moda. As mulheres que gostam de produção independente, que me perdoem, elas não tiveram um pai como o meu. Que outra pessoa poderia ter tanto carinho ao levar meus dedos pelas letras de uma página e ensinar o significado das sílabas? Quem mais me faria amar o chão, a chuva, os pássaros e as plantas como essenciais para o gáudio da nossa vida? Que outra pessoa me contaria aventuras de caça e pesca com tanto realismo que eu me sentia dentro delas? Qual homem sobre o planeta me daria broncas apenas com o olhar e encerraria as mesmas dizendo somente: “nunca mais faça isso”?
Meu pai não julgava as pessoas de maneira leviana. Ajudava os necessitados sem que os outros percebessem. Não era rico, mas fazia de sua essencialidade uma profunda riqueza. Tinha uma casa e era grato por isso. Não faltava comida, então sempre cabia mais um em sua mesa. Até o último dia foi verdadeiro comigo, mesmo para dizer que estava morrendo. Tive que concordar, pois era só a verdade que lhe interessava. Teve os olhos brilhando para mim enquanto viveu, e me serviu de facho luminoso nos momentos mais sombrios da minha vida. E, foi por ele que aprendi a amar os outros homens, inclusive àquele a quem emprestei meu ventre para se tornar pai dos meus filhos. Abençoados sejam os homens da minha vida.
Sua filha,
Ivone